IV Congresso Goiano de Infectologia
More infoA Tuberculose (TB) osteoarticular representa um espectro raro da infecção pelo Mycobacterium tuberculosis, responsável por 1-3% dos casos. A coluna vertebral é o local mais acometido, enquanto as grandes articulações, como o quadril, são incomuns. De instalação insidiosa, evolução lenta, o retardo diagnóstico é comum e compromete o prognóstico.
Relato de casoPaciente do sexo masculino, 43 anos, apresentou-se com queixa de dor crônica recorrente em coxa esquerda, sem histórico de trauma local e piora há 1 mês. Relata diagnóstico prévio de osteomielite no quadril há 2 anos e presença de projétil alojado na pelve há 27 anos. Encaminhado à Emergência em setembro/2023 pelo ambulatório de Ortopedia com identificação, em exames de imagem, de coleções sugestivas de abscesso na coxa esquerda, procedendo-se à drenagem com coleta de material para cultura e anatomopatológico (AP) e prescrição de Ciprofloxacino e Clindamicina. Sorologia não reagente para HIV. Devido à persistência da drenagem de secreção, foi indicado acompanhamento com Infectologia. Durante a investigação, foram solicitados exames adicionais e prescrito SMX-TMP por 2 meses. Resultado do AP de partes moles de janeiro/2024 evidenciou processo inflamatório crônico granulomatoso com necrose fibrinóide, sendo levantada a hipótese de TB em cabeça e colo de fêmur. Foi hospitalizado para antibioticoterapia com Ceftriaxona e Vancomicina e realização da PPD com resultado reator de 10mm. Ademais, realizada reabordagem cirúrgica pela Ortopedia e solicitada nova biópsia e exames para pesquisa de micobactérias e fungos, além de TRM-TB em fragmento ósseo. Implementado esquema RIPE devido à alta suspeição de TB osteoarticular. Após 6 dias, paciente manteve-se estável, afebril, sem sinais de drenagem na ferida operatória, finalizou 28 dias de antibióticos e com boa tolerância ao esquema RIPE, possibilitando alta para acompanhamento no Programa de TB. Com 1 mês de tratamento, a lesão apresentou cicatrização sem sinais flogísticos e foi confirmada a hipótese de TB osteoarticular com resultado positivo no TRM-TB, mantendo-se a conduta terapêutica e seguimento clínico.
ConclusãoDevido à clínica insidiosa e inespecífica faz-se necessário alta suspeição pela infecção por micobactérias para direcionar o tratamento precoce e específico, já que muitos pacientes são tratados por tempo prolongado para germes típicos, sem melhora clínica adequada e culminando em desfechos indesejados, complicações e deformidades.