O diagnóstico de doenças infecciosas é um desafio mediante semelhança clínica entre diversas patologias e possibilidade de reações cruzadas em exames diagnósticos, principalmente em regiões de alta endemicidade. Paciente MIP, sexo feminino, 58 anos, natural de Abaeté/MG. Encaminhada ao Hospital Felício Rocho após consulta médica por quadro de dor abdominal intensa, febre vespertina de até 38,5°C e fadiga com início em 18/06/2021. Sem outros sintomas associados. Sua história patológica pregressa inclui hipertensão arterial, diabetes mellitus tipo II, Herpes Zoster em 2018, COVID-19 em outubro de 2020. Foi internada em 30/06/2021 para propedêutica. Exames laboratoriais evidenciaram anemia, linfocitose, plaquetopenia, proteína C reativa elevada. Em exames de imagem foi observado hepatoesplenomegalia, paniculite mesentérica e linfonodomegalia intra-abdominal. Não foi realizado nenhum tratamento específico, paciente evoluiu com melhora da dor abdominal, último pico febril em 05/07/21, mantendo apenas fadiga. Recebeu alta hospitalar com proposta de cobrar resultado de sorologias ambulatorialmente. Dignos de nota os exames: HSV IgM e IgG reagentes, CMV IgM reagente, CMV IgG indeterminado, PCR CMV negativo, Toxoplasmose IgM e IgG reagentes, Leishmaniose Visceral IgG reagente. Realizado aspirado e biópsia de medula óssea com pesquisas diretas para microorganismos e culturas negativas, PCR de Leishmania negativo. Diante de evidente melhora clínica foi optado por não realizar o tratamento de leishmaniose visceral. Após 6 semanas do início dos sintomas paciente relatou visão turva em olho direito. Foi avaliada pela oftalmologia com lesões sugestivas de toxoplasmose ocular. Tratada com clindamicina (sulfadiazina indisponível no mercado na época), pirimetamina, ácido folínico e prednisona por 28 dias com melhora da acuidade visual.
ComentáriosFrente a possibilidade de reações cruzada, a busca em realizar métodos diagnósticos mais específicos em pacientes com estabilidade clínica pode evitar tratamentos errôneos e de alta toxicidade. A manifestação ocular na toxoplasmose aguda é rara, mas foi importante no caso relatado para definição diagnóstica.