XXIII Congresso Brasileiro de Infectologia
More infoBotulismo é uma doença rara causada pela ação de toxinas produzidas pela bactéria Clostridium botulinum na junção neuromuscular, resultando em fraqueza muscular ou paralisia de início súbito, que tem alta letalidade. Sua baixa incidência dificulta o seu reconhecimento.
ObjetivoRelatar um caso de botulismo com apresentação típica, ocorrido no Rio de Janeiro.
Relato do casoMulher de 26 anos com quadro súbito de diplopia, vertigem, fala lentificada e um episódio de diarreia e constipação após. Evoluiu em 24 horas com fraqueza crânio–caudal, disfagia, disartria, sialorreia e insuficiência respiratória, com necessidade de intubação. Transferida para a UTI em RASS -1, sem abertura ocular ou movimentos em face, pupilas midriáticas, força grau 4 nos membros, reflexos profundos normais e cognição preservada. Exame do LCR e TC de crânio normais. A investigação epidemiológica encontrou palmito contaminado em restos de alimento ingerido 3 dias antes do início dos sintomas. No D6 de doença, foi administrado soro antibotulínico (SAB). Evoluiu com melhora, mas permaneceu 104 dias internada, tendo apresentado pneumonia por MRSA e crises de ansiedade. Recebeu alta deambulando de forma assistida, ventilando em ar ambiente, com melhora progressiva da fonação e deglutição. O diagnóstico de botulismo foi confirmado no D30 por detecção da toxina em amostra de sangue no LACEN.
DiscussãoO retardo no início do tratamento do botulismo é responsável, em grande parte, pela alta letalidade da doença. A suspeição clínica deve motivar notificação e início do tratamento imediatos, pois os testes diagnósticos confirmatórios têm baixa sensibilidade e são demorados. O SAB deve idealmente ser administrado dentro de 7 dias do início dos sintomas. O tratamento não reverte a paralisia, mas interrompe sua progressão, causando tempo prolongado de recuperação. O principal diagnóstico diferencial é a síndrome de Muller-Fisher (SMF). Neste caso, o achado clínico determinante na diferenciação foi a midríase bilateral, ausente na SMF, que justificou o não início de tratamento para SMF, mantendo apenas o SAB. A literatura confirma a alta especificidade desse sinal clínico no botulismo.
ConclusõesBotulismo deve ser considerado como hipótese diagnóstica em todos os quadros neuroparalíticos agudos com início crânio-caudal. O exame neurológico detalhado pode ser fundamental para a condução dos casos.