12° Congresso Paulista de Infectologia
More infoIntrodução: O vírus da dengue é um dos patógenos mais bem sucedidos na história, tendo aumentado sua incidência em 400% em 13 anos, com mais de 3 bilhões de pessoas vivendo em áreas endêmicas e cerca de 400 milhões de infecções por ano. Neste ano, o Brasil sofreu uma nova hiperendemia de dengue, com 924 mil casos notificados até 22/08/20 (439 casos/100 mil hab), sendo o Paraná o primeiro colocado em casos no país, com 262 mil casos (2.295 casos/100 mil hab).
Objetivo: Relatar o caso de um paciente com infecção pelo vírus da dengue, evoluindo com quadro de miosite intensa e rabdomiólise maciça
Metodologia: GF 21 anos, masculino, iniciou quadro de febre, mialgia, dor retroorbitária, artralgia e dor lombar. No terceiro dia, após remissão da febre, apresentou epistaxe, urina escurecida, mialgia intensa e dificuldade para deambular. Em hospital de referência, deu entrada com CPK=654.000U/L, plaquetas=44.000/uL e teste para dengue positivo (NS1, IgM e IgG). Iniciada hidratação vigorosa e diuréticos, com meta de diurese em 100mL/kg/dia, evoluiu com queda gradual do nível de CPK e aumento da plaqueta, associado a melhora da mialgia e retorno da força muscular após exercícios fisioterápicos. Não apresentou alteração da função renal. Recebeu alta após 10 dias de internação para acompanhamento ambulatorial, apresentando perda total de 10kg durante o período
Discussão/Conclusão: A dengue apresenta diversas complicações, como hepatite, pancreatite, encefalite, mielite transversa e síndrome Guillian‐Barré. Casos de miosite com ou sem rabdomiólise são descritos, porém sua incidência é rara (<1% dos casos). Os mecanismos permanecem pouco compreendidos. porém estudos demonstram possível correlação com a liberação de citocinas inflamatórias, particularmente Fator de Necrose Tumoral Alfa, levando a lesão mesmo após a fase virêmica. Em série de casos do Egito com 7 pacientes, a miosite foi fulminante em 3 pacientes, com perda de força respiratória e necessidade de suporte ventilatório, com 2 óbitos. Dentre estes casos, o maior valor de CPK foi de 117 mil U/L, seis vezes menor que em nosso paciente. A maioria dos relatos existentes demonstram comprometimento da função renal devido a rabdomiólise, com casos necessitando de hemodiálise, fato que não ocorreu em nosso paciente, devido a manutenção da filtração glomerular em taxas elevadas. Entretanto, pouco ainda se sabe sobre essa complicação da dengue e sua real importância no curso da dengue grave. Novos estudos devem ser realizados para compreender melhor seu impacto e mecanismos fisiopatológicos.