12° Congresso Paulista de Infectologia
More infoIntrodução: A Síndrome de Guillain‐Barré (SGB) é uma polineuropatia autoimune, desmielinizante e, geralmente, pós‐infecciosa. Apresenta‐se como uma paralisia flácida, ascendente e progressiva de membros inferiores. Além da clínica característica, expressa típica dissociação albumino‐citológica no líquor.
Objetivo: Relatar o caso de um paciente pediátrico com diagnóstico de toxoplasmose congênita e quadro agudo de paralisia flácida em membros inferiores associada à arreflexia.
Metodologia: R. T. S., 1 ano e 4 meses, com toxoplasmose congênita, nasceu a termo, parto cesáreo, Apgar 8/9, peso e perímetro cefálico adequados para idade gestacional. Na primeira semana de vida, foram identificados coriorretinite bilateral, colpocefalia e calcificações puntiformes em Tomografia de Crânio (TC). Criança progrediu com crescimento e desenvolvimento neuropsicomotor adequados. Com 1 ano e 2 meses (13/08/20), sorologias para toxoplasmose foram não reagentes e tratamento suspenso. Um mês depois, constatou‐se IgG e IgM em titulações ascendentes. Já em 28/09/2020, recebeu a primeira dose de vacina oral contra poliomielite (VOP). A partir de 10/10/2020, apresentou regressão súbita da motricidade em membros inferiores de caráter ascendente, manifestando paralisia flácida assimétrica, mais pronunciada à esquerda, associado à arreflexia e diminuição do tônus em membros inferiores. Paciente foi internado após 4 dias do início do quadro agudo e em avaliação liquórica, evidenciou‐se dissociação proteico‐celular e culturas negativas, incluindo toxoplasmose. Nova TC mostrou padrão de imagem semelhante ao exame do período neonatal. Além disso, indicou‐se rastreio de outras infecções, sendo negativo para citomegalovírus, herpes, sífilis e COVID‐19. Pesquisou‐se presença de vírus da poliomielite nas fezes, porém, até o momento da submissão deste artigo, ainda não há resultado. Paciente recebeu 1,6g/kg de imunoglobulina ao longo de quatro dias e evoluiu com expressiva melhora do quadro motor, recebendo alta para seguimento ambulatorial.
Discussão/Conclusão: A elevação nos valores da IgG após a suspensão do tratamento para toxoplasmose congênita é comum na prática clínica. R. T. S. apresentou paralisia flácida após administração da VOP, o que levanta a hipótese de poliomielite pós‐vacinal na vigência da reativação sorológica da toxoplasmose. Tendo em vista a escassez de evidências que relacionam toxoplasmose à síndrome motora, bem como a significativa melhora do quadro após uso de imunoglobulina, a hipótese de SGB tornou‐se fortalecida.