A dengue é considerada a doença viral transmitida por mosquitos mais prevalente e de disseminação rápida entre os seres humanos. Geralmente se manifesta de forma abrupta com febre, cefaleia, mialgias e artralgias, podendo também apresentar sintomas respiratórios e gastrointestinais como vômitos, náuseas, diarreia e dor abdominal, mimetizando - em alguns casos - colicistite aguda alitiásica. Este trabalho objetiva destacar a importância de um diagnóstico preciso de pacientes com manifestações gastrointestinais em áreas endêmicas da dengue.
Descrição do casoPaciente feminina, 32 anos, compareceu ao serviço de emergência relatando febre, náuseas, vômitos e dor no abdome superior há um dia. Referiu ter realizado Colangiopancreatografia Retrógrada Endoscópica por coledocolitíase e colecistectomia videolaparoscópica em 2020. Ao exame físico, observou-se pele corada, levemente desidratada, anictérica e febril (37.9 °C); e dor a palpação do abdome superior, sobretudo no hipocôndrio direito. Nos exames laboratoriais, hemograma e bilirrubinas estavam normais e aspartato aminotransferase, alanina aminotransferase, gama glutamil transferase e fosfatase alcalina com valores elevados. Diante disso, solicitou-se tomografia computadorizada abdominal, que evidenciou colédoco de 1,5 mm, não sendo visualizados cálculos em via biliar. Assim, com a hipótese diagnóstica de colangite, iniciou-se antibioticoterapia e solicitou-se colangiorresonância para melhor avaliação das vias biliares e da presença ou não de cálculo de colédoco. O resultado da colangiorressonância foi normal. Tendo em vista que ela veio de uma cidade com vários casos de dengue, solicitou-se o exame de dengue NS1, cujo resultado foi positivo. Para o diagnóstico diferencial, solicitou-se exames para Covid-19 e leptospirose, os quais resultaram negativos. A paciente melhorou seu quadro clínico gradativamente, aliviando sua sintomatologia, tendo alta hospitalar com boas condições clínicas.
ComentáriosAs manifestações gastrointestinais em pacientes com dengue e alterações laboratoriais podem nos levar subestimar patologias com gravidade considerável como por exemplo a colangite, como também pode nos levar a um “over diagnóstico” de patologias correlacionadas com histórico e exame físico do paciente. O correto direcionamento, assim como uma avaliação clínica epidemiológica cuidadosa e acompanhamento integral do paciente, constituem fatores de grande relevância em situações como a do caso relatado.