XXIII Congresso Brasileiro de Infectologia
More infoA pandemia causada pelo SARS-CoV-2 atingiu virtualmente todos os países do mundo. No Brasil, devido à diversidade regional e socioeconômica, houve diferenças na evolução dos casos e óbitos nas diferentes regiões. O surgimento de variantes de interesse (VOI) levantou preocupações a respeito de cepas mais contagiosas e virulentas. Neste estudo, buscamos traçar o perfil clínico e epidemiológico da população hospitalizada por COVID-19 em um hospital no sul do Brasil em dois diferentes momentos da pandemia, correlacionando com as variantes predominantes em cada período.
MétodosFoi realizado um estudo retrospectivo de março de 2020 a julho de 2021. Os dados epidemiológicos, clínicos e de desfecho foram coletados através da ficha de notificação do Sistema de Informação de Vigilância Epidemiológica (SIVEP-Gripe) e revisão de prontuário. Amostras respiratórias positivas para SARS-CoV-2 foram genotipadas por RT-qPCR, e as variantes foram caracterizadas usando sistemas de genotipagem por sondas.
ResultadosDados de 2.887 indivíduos foram analisados, sendo 1.495 da primeira onda e 1.392 da segunda onda. Houve predomínio do sexo masculino nas duas ondas e a mediana de idade foi significativamente mais baixa na segunda onda do que na primeira (59 anos e 52 anos, respectivamente; p < 0.001). O genótipo Wild foi predominante na primeira onda, enquanto o genótipo Gamma foi predominante na segunda onda. A prevalência geral de comorbidades foi semelhante nos dois períodos. Doenças cardiovasculares e diabetes tipo 2 foram mais frequentes na primeira onda, enquanto obesidade foi mais frequente na segunda onda. Não houve diferença estatisticamente significativa entre as duas ondas em relação à frequência de sintomas relatados no momento da admissão, sendo dessaturação, dispneia e tosse os sintomas mais comuns. A mediana de tempo entre o início dos sintomas e a admissão hospitalar aumentou da primeira para segunda onda (p < 0.001). Não houve diferença estatisticamente significativa entre as duas ondas em relação à gravidade da doença e os desfechos clínicos, com taxa de fatalidade em torno de 22% observada nos dois períodos.
ConclusãoA pandemia de COVID-19 no Brasil foi caracterizada por picos de casos e óbitos, cada qual com características clínicas e epidemiológicas distintas, decorrentes de novas variantes virais. Apesar disso, não houve aparente aumento na gravidade da doença com o surgimento dessas novas variantes.