Infecções relacionadas a assistência a saúde (IRAS) têm impacto direto no atendimento ao paciente e ambiente hospitalar, principalmente, para o sistema de saúde brasileiro. O objetivo do estudo foi descrever as tendências de IRAS em Unidades de Terapia Intensiva (UTIs) de adultos de hospitais representativos no Brasil, usando pesquisa multicêntrica de prevalência pontual.
MétodosO estudo foi realizado em 2019 em 22 UTIs de adultos (17 Clínicas-cirúrgicas e 5 Coronarianas) de 15 hospitais públicos e privados (escolhidos aleatoriamente) de portes diferentes no Brasil. Foi realizado estudo caso-controle onde os Casos foram aqueles que apresentaram IRAS no dia da pesquisa (cada caso pareado na mesma UTI), diagnosticado em prontuário, seja pelo médico assistente ou pelo médico do SCIH. Pacientes que apresentavam mais de um episódio de IRAS tiveram apenas a primeira infecção diagnosticada considerada. Um controle foi selecionado para cada caso. Os controles foram pacientes que ainda não haviam contraído a infecção. Os critérios utilizados para o pareamento foram: idade (variação de ± 10 anos), sexo, motivo da internação e tempo de risco (variação de ± 10 dias, esse período foi a permanência total no hospital antes do dia correspondente para os pacientes controle e antes da infecção para os pacientes caso.
ResultadosForam estudados 386 pacientes, dos quais 136 (35,2%) estavam infectados; 106 (77,9%) desses tiveram pelo menos uma infecção adquirida na UTI. A prevalência de infecções adquiridas nas UTIs clínico-cirúrgicas foi 78,1% e nas coronarianas de 76,8%. A região Sul apresentou a maior frequência de IRAS (69,2%). Apenas 48,6% dos casos tiveram diagnóstico microbiológico. Houve predomínio de pneumonias (44,0%) causadas principalmente por bacilos gram-negativos não fermentadores e infecções de corrente sanguínea (33,6%), predominantemente causadas por Staphylococcus coagulase-negativa. Na análise dos fatores de risco, pacientes oncológicos em ventilação mecânica e em uso de β-lactâmicos com inibidores foram independentemente associados ao desenvolvimento de IRAS.
ConclusãoNossos achados ilustraram a alta prevalência de IRAS em UTIs de adultos no Brasil, diagnosticadas sem critérios microbiológicos. As infecções mais comuns continuam sendo pneumonias causadas por bacilos gram-negativos. Esses dados ilustram a necessidade urgente das IRAS tornarem-se prioridade na agenda de saúde pública do Brasil.
ApoioFAPEMIG/PPSUS, CNPq, CAPES.