A pandemia pela Covid-19 trouxe desafios aos serviços de saúde, com necessidade de adaptações da estrutura, insumos e profissionais para atender a fluxos súbitos de pacientes, o que pode ter acarretado em quebras de medidas de prevenção de infecções relacionadas à assistência à saúde (IRAS). Características do paciente Covid-19 crítico, com admissões na terapia intensiva, múltiplos acessos centrais, ventilação mecânica prolongada, posição prona e uso de corticoides, os tornam vulneráveis às IRAS. Dados da literatura mundial apontam para maiores taxas de IRAS em pacientes Covid-19, mas pouco se sabe sobre a epidemiologia de IRAS nesse cenário em nosso meio.
ObjetivosAvaliar a epidemiologia e desfecho em 30 dias de pacientes Covid-19 e outras condições que desenvolveram IRAS. Métodos: Estudo observacional, de coorte retrospectivo de casos consecutivos de IRAS em pacientes adultos Covid e não Covid, admitidos em um centro único, terciário e de ensino, entre março/2020 a agosto/2021.
ResultadosNo período estudado, ocorreram 144 casos de IRAS. Nos pacientes Covid-19, a prevalência de IRAS foi 3,5% (76/2150 admissões) e nos pacientes admitidos por outras causas foi 0,4% (68/17.074 admissões), p < 0,001. Com relação às topografias, nos pacientes Covid-19 as infecções primárias da corrente sanguínea (IPCS) n = 36/76 (47%) foram mais frequentes, seguidas de pneumonia associada à ventilação mecânica (PAV) n = 28/76 (37%). Nos pacientes admitidos por outras condições, as principais topografias foram IPCS n = 34/68 (50%) e gastrointestinais (Clostridioides difficile) n = 19/68 (28%). Em pacientes Covid-19, Pseudomonas aeruginosa foi o principal agente isolado em n = 18/83 amostras de culturas isoladas dos 76 casos (22%) e Staphylococcus epidermidis n=14/83 (17%). Nos pacientes não Covid-19, os agentes mais comuns foram Clostridioides difficile n=19/73 amostras de culturas isoladas dos 68 episódios (40%) e Klebsiella pneumoniae n = 15/73 (32%). A taxa de mortalidade em 30 dias de pacientes que desenvolveram IRAS, foi 53% em pacientes Covid-19 versus 28% em pacientes não Covid-19, p = 0,002.
ConclusõesEm nossa coorte de pacientes, as IRAS foram mais frequentes nos pacientes Covid-19 com relação aos admitidos por outras condições. A etiologia diferiu nos 2 grupos, com predomínio de P. aeruginosa em pacientes Covid-19. A mortalidade em 30 dias de pacientes com Covid-19 que desenvolveram IRAS foi elevada, demonstrando o impacto negativo das IRAS nesse contexto.