A pandemia de COVID-19 trouxe um grande impacto em saúde pública no Brasil e no mundo, com a letalidade variando a depender das populações e dos fatores de risco associados. Objetivamos avaliar o perfil clinico-epidemiológico e taxas de letalidade dentre subgrupos de pacientes internados durante a primeira onda.
MetodologiaCoorte retrospectiva de pacientes hospitalizados com COVID-19 de abril a setembro de 2020 em hospital terciário, em Goiânia (GO). Dados coletados por revisão de prontuários e inseridos na plataforma RedCap. Análise apresentada em porcentagens, mediana e intervalo interquartílico (IQR). Quiquadrado e Teste T para associações, com intervalo de confiança 95% (IC95%) e significância estatística se p < 0,05. Chance expressa em odds (OR).
ResultadosDas 297 internações por COVID-19 no período, foram analisados 134, 59% sexo feminino, mediana de idade 53 anos (20-92), 33% internados em UTI. Comorbidades presentes em 73%, as principais: hipertensão (42%), diabetes (30%), obesidade (36%), gestação (26%), neoplasias (12%) e doença renal crônica (DRC - 7,7%). Sintomas: febre (68%), tosse (85%), dispneia (74%) e cefaleia (44%). As medianas de tempo decorridas entre início de sintomas e a internação foi 8 dias (IQR 6-11), de tempo de internação 8 dias (IQR 5-13) e de ventilação mecânica 13 dias (IQR 8-22). Fatores como dispneia, uso de oxigênio à admissão, classificação como caso crítico, intubação, admissão em UTI, uso de drogas vasoativas, presença de leucopenia e comprometimento pulmonar > 50% tiveram associação com mortalidade (p < 0,05). A letalidade global no período foi 23% (IC95% 14-28), 56% (IC95% 39-67,) em internados em UTI, 89% (IC95% 59-89) em mecanicamente ventilados (OR 36 e 168, respectivamente). Dentre os subgrupos, a letalidade foi 25% naqueles com comorbidade (OR 2,6), 37% em pacientes oncológicos (OR 2,6), 11,4% em gestantes (OR 1,3), 28% naqueles com idade > 60 anos (OR 2,2), 40% em DRC (OR 2,7) e 25% em obesos (OR 1,4), p > 0,05.
ConclusãoNa primeira onda de COVID-19, a maior letalidade esteve relacionada à gravidade do quadro à admissão, à necessidade de suporte ventilatório e cuidado intensivo. Presença de comorbidades aumenta a chance de pior desfecho. Letalidade de 11% em gestantes é preocupante. Os dados são compatíveis com informações divulgadas sobre o Brasil no mesmo período e reforçam a utilização de políticas de saúde para a assistência precoce, assim como a vacinação prioritária destes subgrupos.