XXIII Congresso Brasileiro de Infectologia
More infoOs surtos de zoonoses resultam de questões socioeconômicas e ecológicas, como a diminuição da cobertura vegetal. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), de 2010 a 2018, um dos biomas mais degradados foi a Amazônia. Assim, é possível que a alteração na vegetação local possa impactar na morbidade por zoonoses, inclusive pela malária, nas regiões próximas ao bioma. O trabalho visa comparar a progressão da perda da cobertura vegetal amazônica com o número de casos e internações por malária, de 2010 a 2018 nas regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste.
MétodosTrata-se de um estudo transversal, retrospectivo e descritivo, com dados secundários do Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN/SUS) e do Sistema de Informações Hospitalares (SIH/SUS), disponíveis na plataforma DATASUS. As variáveis utilizadas foram número de casos e internações por malária nas regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste, de 2010 a 2018. Os dados relacionados à perda da cobertura vegetal na Amazônia foram retirados do IBGE.
ResultadosNo período de 2010 a 2018 houve uma redução de 75.562 km2 de vegetação florestal, representando redução de 2,3% de área. Nesse mesmo período, nas regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste, houve uma diminuição de 61% nas internações por malária entre 2010 (5259) e 2018 (2049). Destaca-se que o menor valor de internações ocorreu em 2015 (1647), enquanto o maior foi em 2010. Quanto aos casos confirmados, houve 745 casos em 2010 e 347 casos em 2018, representando uma redução de 53%. O ano de 2010 foi o com maior número de casos, enquanto o ano de menor número foi 2016, com 162. Percebe-se também um novo aumento de casos entre 2016 e 2018, de 114%.
ConclusãoHouve uma diminuição do número de casos e internações por malária de 2010 a 2016 nas regiões estudadas, acompanhando a redução global da incidência da zoonose, apesar da progressão da perda da cobertura vegetal amazônica. Essa redução possivelmente se deu pelo maior estímulo a prevenção da doença com aumento do número de testes rápidos e distribuição de mosquiteiros com inseticidas, e tais medidas podem ter efeitos benéficos que se sobressaíram aos danosos da degradação ambiental. Ademais, o aumento do número de casos a partir de 2016 pode estar associado ao afrouxamento das medidas preventivas. Assim, percebe-se a importância de reforçar políticas públicas de continuidade do controle e da prevenção da doença, bem como de proteção ambiental.