14° Congresso Paulista de Infectologia
More infoA esporotricose pode ser uma zoonose que raramente assume formas extracutâneas. Entretanto, a disseminação hematogênica do fungo pode acometer múltiplos sistemas, incluindo o sistema nervoso central (SNC). Neste trabalho, relatamos um caso de esporotricose disseminada complicada por vasculite de SNC em contexto de síndrome da reconstituição imune (IRIS) em pessoas vivendo com HIV (PVHIV).
ObjetivoRelatar o caso de uma manifestação rara da esporotricose disseminada. Há poucos casos descritos na literatura de vasculite causada por infecção pelo Sporothrix sp., não havendo consenso em relação à terapêutica em casos de IRIS.
MétodoRevisão de prontuário, discussão com equipe de saúde e revisão de literatura.
ResultadosPVHIV de 36 anos, masculino, com carga viral de 925.000 cópias/mL (log 5,96) e CD4 50 células/mm3 (6,46%) com tosse seca há 6 meses e uma lesão cutânea ulcerada, com cerca de 5 cm de diâmetro, de fundo limpo, na região pré-tibial esquerda. Pesquisa de BAAR no escarro, antígeno criptocócico no sangue e LAM-TB na urina foram negativos. Radiografia de tórax sem alterações. Enviados escarro e swab da lesão cutânea para cultura para fungos e micobactérias. Foi iniciada TARV com TDF/3TC + DTG. Três semanas após, o paciente retornou com cefaleia, febre e confusão mental. Internado na UTI, evoluiu com rebaixamento do nível de consciência e necessidade de ventilação mecânica. Na investigação, foram checadas as culturas de escarro e de swab de lesão cutânea, com crescimento de Sporothrix sp. TC de crânio evidenciou lesões hipodensas em região nucleocapsular, bilaterais, sugestivas de isquemia por vasculite.Houve redução da carga viral para 42.000 cópias (log 4.62). Realizada punção lombar e a análise do líquor mostrou: 226 mg/dL de proteínas, 34 mg/dL de glicose e 18 células/mm3 (100% mononucleares). Realizada PCR para Sporothrix sp. no líquor, que detectou o fungo, confirmando o diagnóstico de esporotricose multifocal disseminada, com envolvimento encefálico. Iniciado tratamento com anfotericina B lipossomal venosa associada a posaconazol via nasoenteral. Houve piora clínica e de neuroimagem apesar do tratamento.
ConclusãoNão há dados na literatura que demonstrem a esporotricose cutânea com lesão única progredindo para doença grave disseminada no contexto de IRIS com tão pouco tempo de TARV. O caso ilustra como PVHIV gravemente imunocomprometidas podem apresentar quadros atípicos de doenças infecciosas, que, no contexto de IRIS, podem evoluir de forma grave.