14° Congresso Paulista de Infectologia
More infoAs Micobactérias de crescimento rápido (MCR) são definidas como aquelas com crescimento em meio sólido em até uma semana. São microrganismos ubíquos, oportunistas podendo causar acometimento pulmonar e extrapulmonar, este relacionado ou não à assistência em saúde (IRAS).
ObjetivoAvaliar o manejo terapêutico, eventos adversos e o desfecho clínico de pacientes com MCR acompanhados em ambulatório de referência do Estado de São Paulo.
MétodoFoi realizado um estudo de coorte retrospectiva, sendo incluídos pacientes com diagnóstico de doença ativa por MCR com comprovação microbiológica segundo os critérios da American Thoracic Society e ANVISA/MS/Brasil no período de 2016 a 2023 atendidos em hospital de referência.
ResultadosDentre os 168 casos de Micobactéria não tuberculosis (MNT), 34 (20,2%) foram de MCR. Foram 32 casos novos e duas recidivas, com identificação do Complexo M abscessus (CMAB) em 20 (58,8%), da espécie M. fortuitum em 12 (35,2%) e de outras espécies em 2 (5,8%). Formas pulmonares ocorreram em 17 (50%) com maior prevalência de M. abscessus (76,4%). Dentre as extrapulmonares, 10 (58,8%) foram relacionadas à assistência à saúde. Quanto ao sítio da infecção, 7 (41,1%) foram de pele e partes moles. Em dois casos de CMAB, detectaram-se resistência ao macrolídeo. Os regimes terapêuticos antes de 2021 foram individualizados por agente; após este período, seguiram-se as diretrizes do MS, 32 (94,1%) utilizaram macrolídeo, 22 (64,7%) fluorquinolonas, 9 (26,4%) carbapenêmico, 5 (14,7%) tigeciclina, 8 (23,5%) clofazimina. Eventos adversos ocorreram em 44,1% dos casos, sendo os mais frequentemente observados intolerância gastrointestinal em 4 (11,7%), ototoxicidade 3 (8,8%), tendinopatia 2 (5,8%), nefrotoxicidade 2 (5,8%), cardiotoxicidade 2 (5,8%), hepatotoxicidade 1 (2,9%) e mielotoxicidade 1 (2,9%). O tempo médio de tratamento na fase intensiva foi 98,6 dias e na de manutenção foi 340 dias. Quanto ao desfecho, evoluíram 21 (61,7%) com cura, 1 (2,9%) com falência de tratamento, 2 (5,8%) para óbito e 9 (26,4%) com mudança de tratamento.
ConclusãoHá um número significativo de eventos adversos relacionados ao tratamento de MCR, associados à toxicidade dos esquemas antimicrobianos utilizados por tempo prolongado, com frequente necessidade de mudança. O manejo da infecção por MCR é desafiador, necessitando da participação ativa do paciente no plano terapêutico e de equipe multidisciplinar para a abordagem e seguimento.