14° Congresso Paulista de Infectologia
More infoA mucormicose é a terceira causa mais comum de infecção fúngica e acomete principalmente pacientes imunocomprometidos e diabéticos. A apresentação clínica varia e depende da porta de entrada do fungo, incluindo rino-órbita-cerebral, pulmonar, cutâneo, gastrointestinal e formas disseminadas. A forma gastrointestinal é rara (5-10% dos casos) e envolve estômago, seguido de cólon e íleo.
ObjetivoRelatar caso de paciente com mucormicose gastrointestinal em cólon, uma condição rara, especialmente entre pacientes imunocompetentes.
MétodoRelato de caso e revisão da literatura.
ResultadosPaciente, 20 anos, em situação de rua, tabagista e usuária de Crack, apresentou tosse seca, calafrios, mialgia e diarreia há uma semana, associados a perda de peso não quantificada. Ao exame físico, encontrava-se em regular estado geral, emagrecida, hipocorada, agitada, taquipneica, boa saturação. Ausculta pulmonar com roncos esparsos. Evoluiu para estado de choque, realizada intubação orotraqueal. Admitida em unidade de cuidados intensivos com antibioticoterapia por sepse de foco pulmonar. Tuberculose afastada. Sorologia IgM para COVID-19 positiva, IgG e teste rápido negativos. Após 8 dias de internação, apresentou melena e enterorragia. A colonoscopia revelou úlcera em cólon ascendente, friável, com coágulo aderido e sangramento ativo e foi realizada escleroterapia e clipagem. Após procedimento, evoluiu com pneumoperitônio e abdome agudo e foi realizada colectomia direita. Hemocultura positiva com presença de leveduras. A biópsia da úlcera do cólon demonstrou tecido necrótico com granuloma supurativo com hifas largas e bulbos, compatível com mucormicose. O produto da colectomia demonstrou presença do fungo. Realizado tratamento com anfotericina B lipossomal por 30 dias. Tomografia de crânio e seios da face e biópsia de lesão de pele não demonstraram alterações significativas. Evoluiu com melhora e, após cerca de 60 dias de internação, teve alta hospitalar.
ConclusãoA mucormicose intestinal é uma infecção rara e grave que resulta de ingestão de esporos, causando úlceras gastrointestinais necróticas. Ocorre principalmente em imunodeprimidos e diabéticos. Tem sido também demonstrada em pacientes com diagnóstico anterior de COVID-19, sendo mais comum a rino-órbita-cerebral. O caso demonstra que a mucormicose é um diagnóstico a ser considerado mesmo em indivíduos sem os fatores de risco clássicos, sobretudo em pacientes que, apesar de imunocompetentes, enfrentaram internação prolongada e infecções graves.