A nitrofurantoína é frequentemente utilizada para profilaxia de infecções urinárias. Nesses casos, o uso contínuo e prolongado da droga expõe o paciente a variados efeitos adversos. Entre os mais comuns, destacam-se náuseas, êmeses, cefaleia e diarreia. Contudo, manifestações mais raras, tais quais fibrose pulmonar e lesão hepática induzida por drogas (DILI - do inglês, drug induced liver injury), são descritas na literatura. Há poucos relatos na literatura da associação concomitante de fibrose pulmonar e hepatite autoimune devido ao uso de nitrofurantoína.

Relatar caso de fibrose pulmonar concomitante a DILI autoimune-like induzidas por uso de nitrofurantoína.

Relato de caso.

C.P.C., 62 anos, feminina, portadora de asma, hipotireoidismo e infecção urinária de repetição, em uso de nitrofurantoína profilática há 4 anos. Procurou atendimento devido a dispneia com piora progressiva nos últimos 30 dias, associada a astenia, fadiga e tosse não produtiva. Tomografia de tórax evidenciou alterações fibroatelectásicas e bronquiectasias difusas bilateralmente, com predomínio perihilar, associadas a extensas opacidades consolidativas em vidro fosco. Apresentava dao hepático com elevação de transaminase oxalacética 878 (VR 40) e transaminase pirúvica 2006 (VR 35). Realizadas sorologias, excluídas causas infecciosas. Solicitadas provas reumatológicas, com fator antinuclear (FAN) reagente, título 1/160, padrão nuclear pontilhado quasi-homogêneo (fenótipo autoimune-like). Evoluiu com melhora clínica e laboratorial após suspensão da Macrodantina e uso de corticoterapia sistêmica com metilprednisolona. Posteriormente, confirmada hipótese de doença intersticial pulmonar fibrosante por nitrofurantoína através do anatomopatológico.

O presente trabalho relata um caso raro de ocorrência concomitante de dois efeitos adversos raros associados à nitrofurantoína, antimicrobiano amplamente utilizado na prática médica. O reconhecimento precoce de tais eventos é essencial para um correto manejo e, consequentemente, melhor prognóstico.