A terapia antirretroviral (TARV) reduz a ocorrência de infecções oportunistas e doenças associadas à imunossupressão com impacto expressivo na sobrevida de pessoas vivendo com HIV/AIDS (PVHA). Todavia, essa população ainda é mais suscetível a neoplasias a despeito de bom controle virológico e imunológico (Araújo et al, 2021).

Descrever o caso de homem jovem, PVHA, com bom controle virológico e imunológico, que apresentou simultaneamente sarcoma de Kaposi (SK) e linfoma de Hodgkin (LH).

Relato de caso e revisão de literatura.

Homem, 35 anos, administrador, PVHA, em uso de TARV desde 2014, último esquema com dolutegravir 50 mg/dia e lamivudina 300 mg/dia. Carga viral (CV) < 20 cópias/mL; linfócitos-T CD4+ (CD4) 495 células/mm3; CD4/CD8 1,61. Em NOV/2022 foi admitido no Hospital Universitário Oswaldo Cruz - Recife/PE para investigação de quadro de lesões cutâneas de aspecto infiltrativo, eritemato-violáceas, não pruriginosas, indolores em tronco, face e membro superior esquerdo há 2 meses, associado a perda ponderal, febre em dias alternados, náusea, vômitos e presença de linfonodomegalias em cadeias supra e infradiafragmáticas. Biópsia incisional de pele consistente com SK, histopatológico de linfonodo axilar com proliferação linfoide atípica e imunohistoquímica (IHQ) consistente com linfoma não Hodgkin de células T, com necessidade de ampliação de marcadores para diagnóstico específico. Evoluiu com piora clínica e laboratorial, com hipercalcemia da malignidade, sendo realizada quimioterapia (QT) de urgência com protocolo CHOEP. Desenvolveu aplasia medular e foi a óbito 13 dias após o primeiro ciclo de QT por choque séptico em contexto de neutropenia febril. Alterado diagnóstico para LH após resultado de IHQ ampliada.

A apresentação de neoplasias e HIV não é incomum, estando relacionada à condição imunológica. Este caso chama atenção para a apresentação simultânea de duas neoplasias de espectros imunológicos opostos. O SK, doença definidora de AIDS, tem sua incidência aumentada nos pacientes imunodeprimidos, porém com relatos da doença em pessoas com CD4 alto (Lodi et al, 2010). Já o LH é um câncer não definidor que tem se tornado cada vez mais comum em PVHA com boa imunidade, graças ao aumento da sobrevida através da alta efetividade da TARV (Araújo et al, 2021). Diante do exposto, verifica-se a importância da vigilância de neoplasias em pacientes HIV+, assim como, uma investigação ampla, quando possível, não se limitando apenas ao que é mais acessível.