14° Congresso Paulista de Infectologia
More infoPessoas vivendo com HIV estão mais suscetíveis a diversas infecções, principalmente quando em imunossupressão severa, como na síndrome da imunodeficiência humana (SIDA). Nesses casos podem ocorrer infecções como a sífilis e também infecções oportunistas por citomegalovírus (CMV), ambas podendo cursar com acometimento neurológico. O diagnóstico dessas infecções do sistema nervoso central (SNC) é feito pela análise do líquido cefalorraquidiano (LCR) associada à clínica condizente. O tratamento preconizado é feito com penicilina cristalina e ganciclovir respectivamente.
ObjetivoRelatar o caso de um paciente com SIDA que apresentou coinfecção grave em SNC por CMV e Treponema pallidum, mas com desfecho favorável após tratamento.
MétodoRelato de caso e revisão de literatura.
ResultadosPaciente do sexo masculino, 29 anos, iniciou quadro de cefaleia, fotofobia e febre em 05/09/23, associado a paresia ascendente e simétrica de membros inferiores, evoluindo com piora progressiva dos sintomas, até paraplegia, incapacidade miccional e constipação intestinal. Em 08/10/23 foi internado, diagnosticado com HIV (CD4 91 células/mm³ e carga viral 632 mil cópias) e neurossífilis (VDRL 1/2 no LCR), e prontamente iniciado tratamento com penicilina cristalina. Porém, devido manutenção do quadro neurológico, foi transferido para um hospital de referência em 06/11/23, onde realizou exames de imagem, que se apresentavam normais, além de novo LCR (25 células, 54% monócitos, proteína 389 mg/dL, glicose 44 mg/dL, VDRL 1/4 e PCR qualitativo positivo para CMV). Iniciado então terapia antirretroviral (TARV) com tenofovir, lamivudina e dolutegravir em 10/11/23 e ganciclovir em 11/11/23. Devido à manutenção do quadro de paraplegia e do PCR de CMV positivo no LCR, mesmo após 28 dias de tratamento com ganciclovir, optado por associar foscarnet, cujo tratamento foi realizado até a alta hospitalar (22/12/23). Mantido seguimento ambulatorial com infectologia e fisioterapia reabilitadora, paciente apresenta força motora grau III-IV de membros inferiores após 4 meses da alta hospitalar. O diagnóstico final da síndrome motora apresentada foi de mielite transversa por CMV e neurossífilis.
ConclusãoEste relato mostra a importância dos diagnósticos diferenciais infecciosos em casos de síndrome motora em pacientes com SIDA, ainda mais como primeira manifestação da doença. É válido ressaltar a falta de consenso na literatura acerca de uma terapia otimizada em casos de acometimento neurológico pelo CMV.