12° Congresso Paulista de Infectologia
More infoAg. Financiadora: Secretaria da Saúde
Introdução: Arboviroses podem resultar em um amplo espectro de manifestações clínicas, provocando desde doenças febris brandas (dengue e febre amarela) a febres hemorrágicas (dengue e febre amarela) e formas neuroinvasivas (dengue, Zika e chikungunya). Quando a causa da morte não pôde ser clinicamente identificada, análises pós‐morte representam a oportunidade final para estabelecer o diagnóstico mais provável e desencadear medidas de vigilância, quando necessário.
Objetivo: Realizar uma análise descritiva dos casos de óbito relacionados à febre hemorrágica e/ou doença neuro‐invasiva de etiologia desconhecida, encaminhados ao Centro de Patologia (CPA) para diagnóstico.
Metodologia: Este estudo transversal retrospectivo revisitou as análises laboratoriais e o diagnóstico final de casos de óbitos de indivíduos >1 ano de idade, associados à febre hemorrágica e/ou doença neuro‐invasiva de etiologia desconhecida no Estado de São Paulo entre 2009 e 2019. A imuno‐histoquímica (IHQ) foi realizada em tecido fixado em formalina e incluído em parafina (FFIP) e a PCR em tecido congelado. Todos os procedimentos foram aprovados pelo comitê de ética institucional (CAAEE 96138818.0.0000.0059).
Resultados: Dos 1355 casos de óbito encaminhados para diagnóstico laboratorial, a maioria era de do sexo masculino (n=848; 63%), entre 25 e 40 anos (n=268; 20%). Em 718 (53%) óbitos foi possível a identificação de um agente etiológico. Destes, dengue (n=145; 11%) e febre amarela (n=140; 10%) foram as mais frequentes. Em 139 (10%) casos, foi possível a identificação de agentes não virais. Doenças não infecciosas, como neoplasias, hepatopatias e infarto foram identificadas em 20 (1%) casos. Através da IHQ e da PCR, não foi possível a identificação de um possível agente causador em 649 (48%) óbitos.Discussão/Conclusão: Uma década de dados laboratoriais enfatizou a importância da investigação laboratorial pós‐morte, o mesmo tempo em que destacou uma lacuna na vigilância laboratorial das mortes por febre hemorrágica e/ou por doença neuro‐invasiva de etiologia desconhecida. Isto pode estar diretamente relacionado às dificuldades técnicas relacionadas ao tecido FFIP, à sensibilidade e dificuldade de interpretação dos resultados de IHQ. Idealmente, o tecido congelado e o FFIP deveriam ser coletados, mas nem sempre isso é possível, devido às incompatibilidades logísticas. Além do aperfeiçoamento das metodologias atuais, abordagens sindrômicas e metagenômicas podem levar a um avanço significativo na precisão e sensibilidade deste diagnóstico.