12° Congresso Paulista de Infectologia
More infoAg. Financiadora: Financiamento Próprio
Introdução: Rhodococcus equi é um agente conhecido de infecções zoonóticas, podendo causar quadros graves em humanos, em geral relacionados à imunodeficiência celular, notadamente a aids. A forma pulmonar representa 80% dos casos e bacteremia 20‐35%.
Objetivo: Descrever um caso de bacteremia por Rhodococcus equi em paciente não HIV, classificada como infecção relacionada à assistência à saúde.
Metodologia: Paciente masculino, 56 anos, tabagista e etilista, portador de neoplasia de cólon, sem terapêutica prévia. Foi submetido a retossigmoidectomia e ileostomia em alça em setembro de 2020. Evoluiu com deiscência de anastomose colorretal, eventração e fístula êntero‐atmosférica. Tomografia de abdome com contraste evidenciou abscesso pélvico, tratado com drenagem percutânea, lavagem local via cateter e uso de ceftriaxone e metronidazol por 10 dias. Após, apresentou piora clínica demonstrada por confusão mental, taquicardia, desidratação, injúria renal aguda, impossibilidade de progressão de dieta enteral e necessidade de nutrição parenteral total. Amostra de hemocultura evidenciou Rhodococcus equi, com 99% de certeza pelo Phoenix100®, sem antibiograma disponível. Paciente negava antecedente de exposição a animais ou área rural; a sorologia para HIV foi negativa e não foram identificadas outras causas de imunossupressão. Não localizados outros focos infecciosos pulmonares ou cutâneos. Recebeu antibiótico terapia endovenosa com meropenem, vancomicina e azitromicina por 10 dias, com melhora clínica completa, restabelecimento de dieta via oral e hemoculturas de controle negativas.
Discussão/Conclusão: R. equi é um agente oportunista emergente, sendo o acometimento pulmonar e cutâneo necrotizantes os mais frequentes. Este caso difere da literatura por descrever uma bacteremia de provável origem intestinal nosocomial, sem exposição zoonótica, cujos fatores de risco identificados foram a imunodepressão secundária à neoplasia, associada à abordagem cirúrgica complicada com abscesso pélvico. R. equi é em geral susceptível a glicopeptídeos, macrolídeos, fluorquinolonas, rifampicina, carbapenêmicos, aminoglicosídeos e linezolida. A terapêutica inicial recomendada é a associação de dois a três antimicrobianos. Pela restrição da via enteral, a sepse e a injúria renal, o tratamento triplo foi escolha assertiva visto a gravidade do paciente. Infecções não usuais devem ser suspeitadas em pacientes expostos a antimicrobianos de amplo espectro e o investimento em métodos diagnósticos acurados é essencial para o sucesso terapêutico.