A doença causada pelo vírus SARS-CoV2 (COVID-19) é um desafio de saúde pública, e mobilizou a abertura de leitos em unidades de terapia intensiva (UTI) para atendimento da demanda relacionada à Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG). A necessidade de suporte ventilatório invasivo, e o elevado tempo de permanência são frequentes nesse público, e os desafios nas definições de infecções relacionadas à assistência à saúde (IRAS) também são complexos nesse cenário. O objetivo desse estudo é descrever o perfil das pneumonias relacionadas à ventilação mecânica (PAV) em UTI de referência para atendimento de SRAG por COVID-19.
MétodosCoorte descritiva de pacientes internados em UTI COVID com 20 leitos, no período de janeiro a julho de 2021, em hospital de referência na região centro-oeste do Brasil. Os critérios de IRAS foram seguidos de acordo com nota técnica GVIMS/GGTES/ANVISA no 02/2021, que normatiza as definições de IRAS em pacientes com COVID-19. A suscetibilidade antimicrobiana foi avaliada de acordo com BrCAST2019, e a resistência aos carbapenêmicos confirmada por teste difusão em disco.
ResultadosNo período estudado foram detectados 31 micro-organismos em IRAS, de 25 pacientes internados com COVID-19, distribuídos em 80,6% (25/31) de PAV, 12,9% (04/31) de infecção primária da corrente sanguínea e 6,5% (2/31) de infecção do trato urinário. A média de idade dos pacientes com PAV foi de 59,3 anos (dp = 11,6). Os micro-organismos mais frequentes foram: Acinetobacter baumannii- 36% (9/25), Klebsiella pneumoniae- 24% (6/25) e Pseudomonas aeruginosa-16% (4/25). Dentre os patógenos identificados, a proporção de micro-organismos multirresistentes (MMR) foi de 64%, representados principalmente por Acinetobacter spp e Klebsiella pneumoniae resistentes aos carbapenêmicos. Os Gram-negativos não fermentadores da glicose foram responsáveis pela maioria dos casos de PAV, compreendendo 68% delas, e as enterobactérias 32%. Não houve identificação de Gram-positivos. A letalidade entre os pacientes com PAV foi de 68%.
ConclusõesOs dados mostram a relevância dos não fermentadores nas IRAS em pacientes em ventilação mecânica por COVID-19. A elevada letalidade dos casos provavelmente pode estar relacionada à limitação do arsenal terapêutico, diante do cenário de multirresistência, e à gravidade da doença viral de base. Até o momento são escassas as publicações que avaliam o papel das IRAS na letalidade de pacientes hospitalizados por COVID-19.