As IH e outros eventos adversos hospitalares podem aumentar o risco de evolução para óbito em pacientes com COVID-19. Os objetivos do estudo são avaliar os aspectos epidemiológicos e clínico-evolutivos dos pacientes internados com COVID-19 no HC-Unicamp; avaliar a ocorrência de eventos adversos e o impacto destes fatores na evolução dos casos.
MétodosEstudo de coorte que incluiu os pacientes notificados pelo Núcleo de Vigilância Epidemiológica do HC da Unicamp.
ResultadosForam incluídos 346 pacientes com diagnóstico de SRAG. A idade média foi 58,7 (DP 14,8) anos, sendo 57,2% (198) homens. Destes, 41,6% (144) foram internados em UTI. A maioria apresentava doenças de base (90,7%). O início dos sintomas até a internação foi de 8,3 (DP 4,2) dias. As principais alterações laboratoriais foram: linfopenia em 52,3% (181), Dímero D, PCR e fibrinogênio elevados em 79,8% (276), 92,8% (321) e 72,2% (250), respectivamente, além de elevação da ureia em 57,5% (199) e hiperglicemia em 87,3% (302) casos. A TC de tórax mostrou alterações típicas em 72,8% (110) casos. Antimicrobianos foram usados em 98,5% (341) casos e 89,9% (311) pacientes apresentaram algum evento adverso durante a internação, sendo os principais: hematológicos em 86,7% (300) pacientes e metabólicos em 53,8% (186) pacientes. Foi observado insuficiência renal não dialítica em 20,5% (71) casos. IH foi diagnosticada em 111 pacientes (32%), sendo PAV em 60,3%), ICS em 43,2% e ITU em 34 (30,6%) pacientes. Foram isoladas 188 culturas positivas, sendo as bactérias gram negativas as mais frequentes como Pseudomonas aeruginosa (14,9%) e Burkholderia cepacia (11,2%). Oitenta e um (23,4%) pacientes evoluíram para óbito. Comparando os pacientes que evoluíram para óbito com aqueles que sobreviveram observamos diferença estatisticamente significante na ocorrência de ICS (9,4% e 28,4%; p < 0,0001), PAV (12,1% e 48,1%; p < 0,0001) e ITU (6% e 24,7%; p < 0,0001).
ConclusãoPacientes COVID-19 são na maioria homens idosos com comorbidades, que internaram na segunda semana de doença, sendo que 41,6% em UTI. Uma porcentagem expressiva dos pacientes apresentou eventos adversos, particularmente distúrbios hematológicos, insuficiência renal e IH contribuindo para pior prognóstico. O uso de antimicrobianos (98,5%) foi além do esperado pela frequência de infecções documentadas, pelas dificuldades de se diferenciar as alterações decorrentes do dano viral e a ocorrência de infecção bacteriana.