A pandemia causada pelo Sars-Cov-2 apresenta-se desafiadora em alguns grupos, incluindo-se as gestantes devido ao risco elevado de morbimortalidade. Neste estudo analisamos a evolução dos casos de COVID-19 em gestantes do Rio Grande do Sul, comparadas a mulheres não gestantes, observando a presença e características de comorbidades e as consequências no desfecho final.
MetodologiaEstudo transversal realizado a partir dos dados de 01/03/2020 até 20/05/2021 da base de domínio público do Estado do Rio Grande do Sul (RS). Foram incluídos todos casos confirmados de Covid-19,no Estado do RS, em mulheres entre a faixa etária de 10 a 59 anos (n = 446.800), pois foram as faixas que possuíam gestantes, após foi criado um grupo gestantes (n=5.050) para então, por meio do procedimento estatístico de escore de propensão, criar um grupo controle homogêneo de não gestantes, utilizando as variáveis de exposição: região Covid, faixa etária e cor de pele, totalizando uma amostra de 8.916, (4.458 gestantes e 4.458 não gestantes).
ResultadosA faixa etária mais prevalente para todas as mulheres foi a de 20 e 39 anos (7.622; 85,5%) e a cor branca (7.482; 83,9%). Foram detectadas comorbidades em 670 (7,5%) mulheres da amostra total, e entre as gestantes, foi estatisticamente maior do que dentre as não gestantes, com 491 (11,0%) versus 179 (4,0%) respectivamente (≤ 0,001). Além disso, as gestantes também tiveram mais comorbidades associadas. O total de comorbidades foi 870, sendo que as mais frequentes foram: doença respiratória (n = 203; 23,3%), diabetes mellitus (n = 160; 18,4%), doença cardíaca (n = 141; 12,2%) e obesidade (n = 122; 14,0%). Comparando gestantes e não gestantes, doença cardíaca e respiratória foram similares, entretanto, obesidade (n = 71; 58,2%) e diabetes mellitus (n = 114; 71,3%) foram mais comuns em gestantes. Os óbitos ocorreram mais no grupo de gestantes (n = 26; 0,6%) do que em não gestantes (n = 10; 0,2%) (p = 0,011). Dos 26 óbitos do grupo gestantes, 21 (0,5%) foram naquelas sem comorbidades e 5 dentre as com comorbidades (1,0%) (p = 0,198), e no grupo controle, todos os 10 (0,2%) óbitos foram nas mulheres sem comorbidades (p = 1,000).
ConclusãoA maior frequência de comorbidades e de óbitos nas gestantes pode ser agravada pelas condições de vulnerabilidade desse grupo, sinalizando a necessidade de vigilância mais intensa e mais estudos para compreensão das causas desse fenômeno com intuito de minimizar seu impacto na saúde materno infantil.