Data: 18/10/2018 ‐ Sala: 2 ‐ Horário: 15:40‐15:50 ‐ Forma de Apresentação: Apresentação oral
Introdução: O diagnóstico clínico exclusivo da dengue pode ser feito a partir dos critérios definidos pelas diretrizes da Organização Mundial da Saúde para estabelecer o tratamento precoce. Porém, é frequente que esse diagnóstico esteja sujeito a erros, principalmente por depender diretamente da experiência do médico ou da intensidade das manifestações clínicas do paciente.
Objetivo: O objetivo deste estudo foi avaliar a confiabilidade do diagnóstico clínico de dengue numa área endêmica.
Metodologia: Foram analisados retrospectivamente 119.589 pacientes notificados entre 1998 e 2012 em São José do Rio Preto, São Paulo. As manifestações clínicas gerais (como febre e cefaleia), extravasamento plasmático, manifestações hemorrágicas, insuficiência orgânica e diagnóstico laboratorial foram avaliados. A sensibilidade, a especificidade, o valor preditivo positivo (VPP) e o valor preditivo negativo (VPN) do diagnóstico clínico foram calculados. Posteriormente, definiu‐se o grau de concordância entre os diagnósticos clínico e laboratorial (Elisa‐IgM, reação em cadeia da polimerase [PCR] e pesquisa da proteína não estrutural 1‐NS1) pelo coeficiente kappa de Cohen.
Resultado: A PCR foi feita em 796 (0,07%) pacientes, NS1 em 7.104 (5,9%) e Elisa‐IgM em 60.447 (50,5%). Com o uso do Elisa‐IgM como referência, a sensibilidade do diagnóstico clínico baseado nas diferentes manifestações gerais oscilou entre 27,19% e 96,55%, a especificidade entre 8,94% e 71,19%, o VPP entre 40,26% e 57,75%, o VPN entre 48,59% e 69,39%, com concordância leve (k=0,01‐0,20). As manifestações hemorrágicas apresentaram também sensibidades extremamente baixas (0,7% a 50,1%). Fixando‐se a PCR como referência, essa sensibilidade ainda foi baixa (2,0% a 51,35%), assim como relação a NS1 (25,0% a 50,0%), com baixo grau de concordância entre todas as manifestações hemorrágicas e os exames laboratoriais (k=0,01‐0,20). Similarmente, com Elisa‐IgM ou PCR como padrão, as sensibilidades para extravasamento plasmático e falência de órgão foram menores do que 50% e houve baixa concordância.
Discussão/conclusão: Para alguns autores, o uso do diagnóstico clínico contribui para elevar a sensibilidade do diagnósticos de dengue e diminuir o número de pacientes graves. Porém, diagnósticos imprecisos de dengue podem sobrecarregar o sistema de saúde ou ocultar casos de outras doenças com sintomatologia semelhante. Portanto, o diagnóstico clínico da dengue sem o apoio laboratorial representa um baixo grau de certeza sobre a presença dessa doença no paciente.