A esporotricose é micose de implantação mais prevalente no mundo. Atualmente, o Brasil enfrenta o maior surto epizoonótico da doença,acometendo milhares de humanos e felinos, além de centenas de caninos. O objetivo do presente estudo é realizar levantamento epidemiológico retrospectivo e análise estatística da última década dos casos de esporotricose humana atendidos no Hospital de Clínicas da UFPR.
MétodosForam revisados 175 prontuários de pacientes com diagnóstico de esporotricose (CID B42) durante o período de 2011 a julho/2021. ETF provada foi definida quando os pacientes possuíam manifestações clínicas, contato com felinos doentes e evidência microbiológica e/ou histopatológica da doença. Já, a ETF provável definida pela presença de manifestações clínicas e contato com felinos doentes que tiveram diagnóstico microbiológico realizado pelo veterinário. O trabalho foi aprovado pelo CEP-HC-UFPR. As análises estatísticas foram realizadas utilizando o Soft Statistica for Windows (Version 8.0, Stat Soft Inc, Tulsa EUA).
ResultadosDiagnóstico de esporotricose provada,com isolamento do fungo em cultura foi estabelecido em 57 pacientes (32,6%) e provável em 118 pacientes (67,4%). Entre os 175 pacientes, 171 (98,3%) relataram a transmissão zoonótica e apenas 4 (1,7%)a via de transmissão estabelecida foi sapronótica. Identificação molecular foi realizada em 28 isolados, e em 92,9% (n = 26) o agente etiológico identificado foi S.brasiliensis. O maior número de casos da doença foi diagnosticado entre 2019-2021 (n = 105, 60%).A taxa de incidência da esporotricose aumentou de 0,27 casos/100.000 pacientes em 2011,para 30,4 casos/100.000 pacientes em 2021. A taxa de prevalência da doença foi de 4,97 casos/100.000 pacientes. A maioria dos pacientes atendidos eram do município de Curitiba (n = 145,82,9%). A maior prevalência foi no sexo feminino (63,4% mulheres; 36,6% homens) e a média de idade de 40 anos (1-87 anos). No total, 12% dos pacientes (21) tinham < que 18 anos. Houve prevalência de 9,7% (n = 17) em pacientes com profissões de risco de exposição à doença, 9 veterinários, 5 estudantes de veterinária, 3 trabalhadores de pet house e 2 jardineiros. A principal manifestação clínica foi linfocutânea (n = 111, 65,1%),seguida de cutânea fixa (n = 43,24, 6%), ocular (n = 13,7, 4%) e forma mista (n = 5,2, 9%).
ConclusãoEm 2011, foi identificado o primeiro caso de ETF na instituição,e desde então, houve aumento significativo no número de casos, mostrando que a doença continua em expansão e fora de controle.