XXIII Congresso Brasileiro de Infectologia
More infoMycobacterium marinum é uma micobactéria de crescimento lento que causa infecção cutânea em humanos pelo contato com água contaminada. Já Mycobacterium pseudoshottsii é uma micobactéria intimamente relacionada com M. marinum, isolada em peixes nos Estados Unidos, Japão e Mediterrêneo, sem relatos de doenças em humanos. Relatamos o caso de um homem, 55 anos, com história de mordida por peixe-espada (Trichiurus lepturus) no primeiro dedo da mão direita, evoluindo com dor e edema progressivos e sinais de tenossinovite do túnel do carpo. Dois meses após, foi submetido a cirurgia ortopédica para descompressão de tendão e desbridamento dos tecidos. Após a cirurgia, o paciente evoluiu com melhora clínica mesmo sem antibioticoterapia. Em cultura de fragmento de antebraço e punho houve crescimento de micobactéria identificada por técnicas moleculares como Mycobacterium marinum/Mycobacterium pseudoshottsii (sensível a amicacina, claritromicina e linezolida; resistente a ciprofloxacino, doxiciclina, rifampicina e sulfametoxazol-trimetoprim; intermediário a moxifloxacino). Foram iniciados claritromicina, etambutol e moxifloxacino com previsão de tratamento de pelo menos 6-12 meses. A infecção por M. marinum é geralmente resultado de lesões de pele e partes moles e contato com ambientes de água doce ou salgada, tanques de peixes ou piscinas. M. marinum produz uma lesão crônica nodular geralmente solitária que evolui para úlcera rasa especialmente encontrada em membros. Ocasionalmente novas lesões se desenvolvem em torno da ferida inicial de forma ascendente. Complicações podem incluir osteomielite, tenossinovite e artrite. Exames de imagem auxiliam a determinar o grau de profundidade e acometimento da infecção. Para o diagnóstico etiológico são usadas culturas, histopatologia e métodos moleculares como PCR multiplex e sequenciamento genético que identificam a espécie analisada comparando com a base de dados de genes GenBank. No nosso caso, foi realizado sequenciamento parcial do gene hsp65, com índice de similaridade de 99.75%, correspondendo às cepas padrão de M. marinum e M. pseudoshottsii. Assumiu-se que a infecção foi causada por M. marinum devido ao perfil de infecção em humanos. Essa infecção é melhor tratada com combinações de dois ou três medicamentos antimicobacterianos, comumente incluindo etambutol, claritromicina e/ou rifampicina. O desbridamento cirúrgico pode ser necessário, especialmente se há envolvimento de tendão ou osso.