A neuroesquistossomose tipicamente apresenta quadro de mielorradiculite. Porém, relatamos a seguir uma encefalite de tronco (romboencefalite). Mulher, 25 anos, sem comorbidades prévias, procedente de São Paulo, admitida com quadro progressivo de tontura, cefaleia, parestesia à direita, evoluindo com diplopia e ataxia de marcha há uma semana. Relatou viagem há dois meses para Crisópolis (interior da Bahia), onde frequentou rios e lagoas. Após duas semanas da exposição apresentou quadro de febre não aferida e lesão eritematosa pruriginosa em coxa direita. Ao exame, encontramos a presença de força muscular grau IV, hemihipoestesia e exaltação de reflexos osteotendíneos em hemicorpo direito, além de marcha atáxica e paresia do olhar conjugado para a direita. Exames laboratoriais evidenciaram eosinofilia (16,4%) e eosinofilorraquia (26%). Ressonância magnética do crânio demonstrou área de hipersinal em T2 com realce heterogêneo, de aspecto tumefativo, acometendo a ponte com extensão para pedúnculos cerebelares e mesencéfalo. A tomografía de tórax evidenciou múltiplos nódulos pulmonares não calcificados em parênquima pulmonar. A imunologia no líquor e sangue (imunofluorescência indireta – IgM) foram positivas para Schistosoma em altos títulos (1/320), sendo iniciado tratamento direcionado com Praziquantel 3.600mg dose única e Artesunato 4mg/kg (240mg) intravenoso por três dias associado a prednisona 1mg/kg/dia. Paciente evoluiu com piora de disartria e rebaixamento do nível de consciência, sendo submetida a intubação orotraqueal e transferida para unidade de terapia intensiva (UTI). Infelizmente, durante a UTI, apresentou parada cardiorrespiratória, evoluindo a óbito. A encefalite pseudotumoral é uma forma rara da neuroesquistossomose. O diagnóstico é difícil uma vez que os achados de imagem são comuns a outros processos granulomatosos. Nesse contexto, é essencial aventar a hipótese de esquistossomose dentre os diagnósticos diferenciais de lesões granulomatosas/expansivas de sistema nervoso central, especialmente na presença de eosinofilia e eosinofilorraquia. Testes sorológicos possuem pouco valor em pacientes provenientes de áreas endêmicas. Entretanto, a presença de IgM no líquor reforça o diagnóstico. Não existe consenso sobre o papel de drogas anti-schistosoma, corticóide e abordagem cirúrgica nas romboencefalites por esquistossomose.
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Vol. 26. Issue S1.
(January 2022)
Vol. 26. Issue S1.
(January 2022)
PI 302
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ROMBENCEFALITE POR ESQUISTOSSOMOSE: RELATO DE CASO
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Lara Silva Pereira Guimarães, Diego Augusto Medeiros Santos, Julia Ferreira Mari, Alice de Paula Baer, Agnes Araújo Sardinha Pinto, Mateus Barradas Ribeiro, Vitor Falcão de Oliveira, Beatriz Carneiro Gondim Silva, Guilherme Diogo Silva, Maria Felipe Medeiros, Juliana Cavadas Teixeira, Marcelo Nóbrega Litvoc
Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (HCFMUSP), São Paulo, SP, Brasil
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