XXIII Congresso Brasileiro de Infectologia
More infoA doença causada pelo Citomegalovírus (CMV) é principalmente dependente do status imunológico do hospedeiro, sendo incomum que ocorra replicação viral sustentada nos imunocompetentes. Este relato traz um caso incomum de paciente sem imunodeficiência primária ou secundária, com manutenção e recorrência de replicação virológica. Paciente de 50 anos, sexo feminino, com histórico de diabetes mellitus tipo 2 controlado com antidiabéticos orais, sem histórico de doenças de cunho hematológico/imunológico, uso de glicocorticoides ou fármacos imunossupressores. Referia que em 2020 iniciou quadro de astenia, artralgias, alopecia, alteração de hábito intestinal, alternando entre períodos de constipação e diarreia, temperaturas subfebris, lesões de pele que iniciaram como pápulas e progrediram para úlceras e formação de crostas. Sem nenhuma definição diagnóstica, foi solicitado por médico externo um PCR sérico para CMV apresentando log 5,89. Fez tratamento com ganciclovir, evoluindo com negativação do PCR e melhora clínica total. Evoluiu posteriormente com perda de acuidade visual, formação de lesões ulceradas em boca, perda ponderal de 16kg, desconforto abdominal, pancitopenia e infecções de trato urinário recorrentes. Fez novos ciclos com ganciclovir, tendo novamente correção das anormalidades hematológicas, negativação da replicação viral e melhora sintomatológica. A paciente ainda passou por extensa investigação com equipes de Hematologia, Reumatologia, Ginecologia, Urologia e Imunologia, sem evidências de alterações imunológicas primárias ou secundárias que justificassem a manutenção do quadro. Em seu 5° episódio de recorrência (abr/2023), paciente não teve resposta com ganciclovir, tendo sido necessária a prescrição de foscarnet. Paciente evoluiu com diminuição da viremia, porém mantendo em títulos moderados, com melhora clínica parcial e manutenção das citopenias. Em razão de pancreatite pelo foscarnet e ausência de melhora com ganciclovir, foi optado por seguimento e conduta expectante. A literatura quanto ao acometimento de CMV em pacientes imunocompetentes é escassa, a reativação viral pode estar presente em pacientes gravemente enfermos, mas é bastante incomum em imunocompetentes. Não foram encontradas na literatura evidências para realização de profilaxia para esse tipo de paciente, nem alternativas facilmente disponíveis. A pesquisa de resistência viral, apesar de ter alto custo e ser pouco disponível, pode ser necessária para esses tipos de caso.