XXIII Congresso Brasileiro de Infectologia
More infoA doença citomegálica com acometimento gastrintestinal é uma infecção descrita principalmente em indivíduos imunocomprometidos mas eventualmente pode ser identificada em imunocompetentes. O caso a seguir é uma descrição incomum de apresentação clínica de infecção intestinal por CMV simulando uma neoplasia de cólon sigmoide. MSB, 79 anos, portador de doença de chagas, deu entrada em um hospital privado de Brasília/DF apresentando astenia, hiporexia, dor abdominal e sangramento digestivo baixo, sintomas iniciados após ser submetido a um fleet enema para tratamento de constipação intestinal; relatou períodos de constipação intestinal alternados com diarreia e perda ponderal de 10kg nos últimos 6 meses. Realizou Endoscopia Digestiva Alta (23/03/2023) que não identificou sangramento recente. Tomografia computadorizada de abdome (23/03/2023) evidenciava “distensão gasosa acentuada de todo o cólon”. Colonoscopia (29/03/2023) evidenciou “lesão vegetante, ulcerada, friável ao toque com sangramento, padrão estenosante com passagem difícil do endoscópio, ocupando cerca de 85% da luz e circunferência do órgão, sugestiva de neoplasia. Mucosa do reto com duas ulcerações recobertas com fibrina em aspecto de cicatrização”. Estudo histopatológico (30/03/2023) evidenciou “exuberante tampão fibrinolítico com extensa erosão”. Imunohistoquímica foi positiva para CMV. Sorologias para Sífilis, HIV, Hepatites B e C negativas, CMV IGG > 250 e IGM negativo. Paciente não recebeu tratamento antiviral e apresentou melhora dos sintomas apenas com tratamento sintomático. Após a alta hospitalar, realizou Retossigmoidoscopia (20/04/2023) que evidenciou “lesão enantematosa plana em sigmoide”, portanto aparente melhora espontânea da massa previamente estenosante. Permanece bem até o momento, em seguimento ambulatorial mensal. Pseudotumor por CMV deve fazer parte do diagnóstico diferencial de massas gastrintestinais mesmo em pacientes imunocompetentes, pois as alterações inflamatórias secundárias à reativação viral podem mimetizar inúmeras patologias, dentre elas as neoplásicas. O tratamento pode incluir ganciclovir intravenoso isoladamente ou associado a remoção cirúrgica da massa quando há obstrução. Pacientes do sexo masculino, com idade acima de 55 anos, colectomizados devem ser cuidadosamente avaliados pois apresentam maior risco de recidiva e maiores taxas de óbito se não forem tratados, porém em 24 a 31% dos casos pode haver remissão espontânea da lesão, como ocorreu no caso descrito.