Os vírus T-linfotrópico humano 1 e 2 (HTLV-1 e HTLV-2) tiveram suas origens na África e se dispersaram para os demais continentes por meio dos fluxos migratórios humanos. Nas Américas foram introduzidos, principalmente, pelos ancestrais ameríndios e pelo tráfico de escravos vindo da África.
ObjetivoDescrever a prevalência do HTLV-1/2 e seus tipos, em comunidades quilombolas de cinco municípios do Estado do Pará.
MétodosA amostra foi composta de 859 indivíduos, 525 (61.1%) mulheres e 334 (38.9%) homens, pertencentes a onze comunidades remanescentes de quilombos: Arimandeua (n = 45), Aripijó (n = 31), Bacuri (n = 10), Cabanagem (n = 17) e São Benedito (n = 63), localizadas no município de Cametá; Itamoari (n = 109), Camiranga (n = 89) e Bela Aurora (n = 35), do município de Cachoeira do Piriá; Umarizal (n = 303), no município de Baião; Nova Jutaí (n = 137), município de Breu Branco; Poeirinha (n = 20), município de Bonito. Sangue venoso periférico (10 mL) foi coletado dos indivíduos, por um sistema de colheita à vácuo em tubo contendo EDTA como anticoagulante. O plasma foi separado da massa celular por centrifugação e junto à alíquota de leucócitos foi armazenado em -20ºC até o momento do uso. A triagem sorológica foi realizada pelo método de ELISA (Murex HTLV I + II, DiaSorin). A confirmação da infecção e diferenciação do tipo viral foi realizada pelos métodos de Inno-LIA (Inno-LIA HTLV I/II Score Fujirebio) e qPCR (TaqMan, Applied Biosystems Step One Plus Real Time PCR).
ResultadosA infecção pelo HTLV-1 foi detectada em apenas um habitante (homem de 24 anos) de Itamoari (0,91%). Enquanto a infecção por HTLV-2 foi detectada em um indivíduo (homem com mais de 60 anos) de Arimandeua (2,22%) e em dois (um homem e uma mulher com mais de 60 anos) de São Benedito (3,17%). As demais comunidades não apresentaram indivíduos soropositivos para HTLV-1/2.
ConclusãoA ocorrência do HTLV-1 na comunidade de Itamoari pode estar relacionada a sua origem africana. A ocorrência de infecção pelo HTLV-2 nos quilombos de Arimandeua e São Benedito, pode ser reflexo de um contato destas populações com comunidades indígenas da região durante a formação dos quilombos, um aspecto sócio cultural bastante descrito na literatura. Em vista disso, mais estudos epidemiológicos acerca deste retrovírus são necessários para um melhor conhecimento acerca de sua distribuição nestas comunidades.