Piomiosite é uma infecção bacteriana aguda que ocorre nos músculos esqueléticos e geralmente resulta na formação de abscesso. É responsável por 4 % das internações em clínicas cirúrgicas em países com maior prevalência. Predomina no sexo masculino, na faixa etária próxima a 30 anos. A mortalidade varia de 0,89 a 23%. Indivíduos com infecção por HIV tem cinco vezes maior probabilidade de serem diagnosticados. O objetivo do trabalho foi relatar o caso de uma paciente com piomiosite extensa por germe incomum, em paciente aids. Sexo feminino, 73 anos, aids há 10 anos, em tratamento irregular com 3TC/TDF/DTG, CD4 269 e CV 548 (18/08/21). Admitida em 12/08/21 com um ano de emagrecimento, astenia e aparecimento de massa inguinal esquerda há dois meses. Tomografia computadorizada (TC) de abdome e pelve com volumosa coleção, com realce periférico pelo meio de contraste que se estendia de T12 pelo musculo psoas esquerdo, sem plano de clivagem com a musculatura paravertebral, estendendo-se ao íliopsoas, exteriorizando-se através do subcutâneo e pele da fossa ilíaca esquerda. Há extensão da coleção para região da articulação coxofemoral esquerda com linfonodomegalias inguinais. Apresentava discreto aumento dos parâmetros inflamatórios. Feita drenagem à beira leito percutânea com colocação de dreno. Isolado Proteus mirabilis multissensível no material cirúrgico. BAAR negativo, geneXpert indisponível. Iniciado ampicilina-sulbactam empiricamente, mantido após isolamento do germe, com tratamento total de 12 dias. TC de controle com acentuada redução de tamanho do abscesso. Retirado dreno, paciente teve alta hospitalar em 21/09, com melhora clínica. Há poucos relatos na literatura de piomiosite causada por gram negativos, especificamente Proteus sp. Staphylococcus aureus é o agente causador em cerca de 90% dos casos na população geral. A paciente possuía como fatores de risco aids e desnutrição. Não houve trauma local, mas a paciente usava cadeira de rodas. Suas principais complicações são osteomielite (5-73%), pneumonia (11-18%) e artrite séptica (2-16%), ausentes no caso. O caso mostrou a importância do exame de imagem em pacientes aids, pois a extensão e gravidade da lesão podem ser desproporcionais ao comprometimento inflamatório do paciente. Além disso, foi possível demonstrar o sucesso terapêutico da antibioticoterapia guiada associada a drenagem de abscesso extenso, que possibilitou tempo curto de tratamento.
