XXIII Congresso Brasileiro de Infectologia
More infoA osteomielite é uma infecção que afeta o osso, cujos possíveis mecanismos fisiopatológicos englobam infecção hematogênica, traumática, cirúrgica, prostética, via tecidos moles ou por insuficiência venosa. Pode ser classificada a partir do acometimento anatômico e do estado do hospedeiro. Em adultos, as principais bactérias envolvidas são Staphylococcus aureus, estafilococos coagulase-negativos, estreptococos beta-hemolíticos, Streptococcus viridans, enterococos e bacilos aeróbios gram-negativos. Em 24/02/2023, um paciente do sexo masculino de 39 anos, portador de osteomielite crônica há 28 anos, foi internado num Hospital Universitário do Nordeste do Brasil apresentando abscesso em membro inferior direito com drenagem de secreção purulenta, dor leve e redução da amplitude de movimento do membro. De antecedente patológico, relatou abscesso após trauma contuso há 28 anos, com realização de duas cirurgias naquela época. Na internação, após evidenciado comprometimento ósseo sugestivo de osteomielite em tomografia computadorizada, foi realizada sequestrectomia com biópsia óssea pela equipe de Ortopedia, após a qual foi iniciado esquema com ciprofloxacino e clindamicina. Um mês depois, a manutenção da drenagem purulenta motivou escalonamento para vancomicina e piperacilina + tazobactam. A cultura automatizada do fêmur evidenciou presença de cocos coagulase-negativo multirresistentes sensíveis apenas à tigeciclina da espécie Kocuria kristinae. Após o resultado, a programação terapêutica foi administrar tigeciclina endovenosa por 28 dias, contudo essa duração foi reduzida para 21 dias por conta de sintomas gastrointestinais importantes e de difícil controle. Em 24/04/2023, 31 dias em uso de tigeciclina após otimização da terapia voltada ao trato gastrointestinal, paciente apresentava-se em bom estado geral, deambulando sem auxílio, com bom aspecto da ferida e sem sinais clínicos de infecção. Paciente recebeu alta no mesmo dia, com prescrição de Doxiciclina por 20 dias e retorno para acompanhamento ambulatorial. A Kocuria kristinae, do gênero Acinetobacter spp., é geralmente encontrada na pele e na cavidade oral de seres humanos, possuindo perfil amplo de suscetibilidade a antimicrobianos, diferente da encontrada na amostra. É comum que laboratórios considerem sua presença como contaminação do material analisado, já que são bactérias raramente causadoras de infecção em humanos, sendo sua patogenicidade relacionada a pacientes hospitalizados e imunocomprometidos.