Desde o menor número de casos reportados em 2000, os casos de sífilis aumentaram mundialmente, com maior incidência em homens que fazem sexo com homens e pacientes com HIV. O envolvimento ósseo é incomum na sífilis primária e secundária, com uma prevalência de 0,15 a 0,23%.
Descrição do casoPaciente masculino, 36 anos, buscou pronto atendimento por cefaleia frontal, de moderada intensidade, com início há 3 meses e piora há três dias, após tratamento com penicilina G benzatina devido a sífilis diagnosticada em VDRL de rastreio. Dor era do tipo opressiva, acompanhada de edema na região frontal e na pálpebra superior direita, com sudorese noturna. Havia sido diagnosticado com HIV há 18 meses. Em uso de TARV. Última dosagem de carga viral há 11 meses, com resultado indetectável e CD4 de 184 células/mm3. Ao exame físico, bom estado geral, afebril, hemodinamicamente estável. Edema periorbitário à direita e em região frontal, sem sinais flogísticos. Exames laboratoriais demonstraram aumento da PCR e VHS. Foi realizada uma angiotomografia com sinais de osteomielite de calota craniana bilateral em região frontal, com maior comprometimento do lado direito. A lesão foi biopsiada. Na punção lombar, líquor sem aumento de celularidade e VDRL não reagente. Devido a suspeita de osteomielite por sífilis secundária, foi iniciado ceftriaxona 2g por dia, assim como sulfametoxazol trimetoprima profilático, pelo CD4 menor que 200. No quinto dia de internação, o paciente apresentou melhora significativa da cefaleia e edema. Paciente foi de alta hospitalar com ceftriaxona por 14 dias. Alguns dias após a alta, resultado do PCR de calota craniana para treponema foi positivo e confirmou o diagnóstico de osteomielite por sífilis secundária. Ao longo do monitoramento do tratamento, foram observadas quedas progressivas do VDRL. Após 22 meses, depois de um novo contato sexual, o paciente apresentou VDRL de 1:256, sendo diagnosticada reinfecção e realizada nova administração de penicilina G benzatina.
ComentárioA presença de achados mucocutâneos e linfadenopatia levantam a suspeita de osteíte sifilítica, porém, no caso relatado, as únicas manifestações presentes eram cefaleia e edema. Não existe consenso sobre o tratamento dos casos de osteíte por sífilis secundária, uma vez que são raros. Os sintomas se resolvem após a terapia, mas as lesões ósseas podem persistir por até 7-11 meses.