14° Congresso Paulista de Infectologia
More infoOs anaeróbios são responsáveis por 1 - 17% dos agentes de infecção de corrente sanguínea, podendo chegar a até 30% em algumas casuísticas, sendo Bacteroides spp., Clostridium spp. e Fusarium spp. as principais espécies envolvidas. Atopobium rimae é um anaeróbio gram-positivo com poucos casos na literatura relatados, relacionado com infecção em pacientes imunossuprimidos e associação com doença periodontal.
ObjetivoHá poucos casos de bacteremia por Atopobium rimae reportados na literatura.
MétodoRelato de caso e revisão de literatura sobre bacteremia por Atopobium rimae.
ResultadosPaciente do sexo feminino, 54 anos, com diagnóstico de mieloma múltiplo e púrpura trombocitopênica imune, internada no Instituto do Câncer do Estado de São Paulo, devido à plaquetopenia com sangramento cutâneo-mucoso ativo. Necessitou de intubação orotraqueal 2 dias após a admissão devido à rebaixamento do nível de consciência secundário à crise convulsiva. No 2° dia de ventilação mecânica, paciente apresentou pico febril de 39.6°C e aspiração orotraqueal com presença de secreção semi-espessa, fétida e escurecida, juntamente, apresentou piora dos parâmetros ventilatórios com necessidade de maior fração inspiratória de oxigênio. No dia seguinte, houve aumento da quantidade de secreção aspirada, apresentando roncos difusos na ausculta pulmonar, com manutenção da febre. Foi isolado em 2 balões de hemocultura de sangue periférico o agente Atopobium rimae; não houve teste de sensibilidade realizado. Paciente foi tratada com piperacilina-tazobactam por 7 dias, com melhora clínica e laboratorial. Não há relato de doença periodontal.
ConclusãoDos 4 relatos de caso reportados na literatura de bacteremia por Atopobium rimae, a maioria dos pacientes apresentava algum grau de imunossupressão - etiologia neoplásica, como o caso reportado, secundária à imunossupressão pós-transplante cardíaco e cirrose alcoólica ou predisposição à broncoaspiração (paralisia de corda vocal). Apesar de ser parte da microbiota oral e periodontal, este é o segundo caso reportado sem doença em cavidade oral evidente. A maioria dos pacientes com bacteremia por A. rimae foi tratada com associação de beta-lactâmico e inibidor de beta-lactamase e tiveram desfecho de cura, assim como a paciente apresentada. A bacteremia por anaeróbios tem ganhado maior destaque após a inclusão do MALDI-TOF na rotina laboratorial, suscitando a discussão sobre a necessidade de testes de sensibilidade em especial para anaeróbios isolados em contexto de sepse.