XXIII Congresso Brasileiro de Infectologia
More infoEndocardite infecciosa é uma doença pouco frequente mas com elevado risco de complicações e morte.
ObjetivoDescrever tendências temporais nas características clínicas e epidemiológicas de pacientes hospitalizados com endocardite infecciosa em um único centro de referência ao longo de quatro décadas.
MétodosCoorte de 1.804 episódios consecutivos de endocardite em pacientes (> 12 anos) internados em um hospital cardiológico, 1978-2022. O desfecho foi óbito intra-hospitalar. Foram estudados dados demográficos, comorbidades, condições predisponentes, microrganismos e complicações ao longo do tempo e por décadas (1978-1988, 1989-1999, 2000-2010, 2011-2022). Foi realizada uma análise de séries temporais, modelando cada ano usando uma função spline cúbica não-linear com 4 pontos de inflexão para permitir a análise de não-linearidades ao longo do tempo. As associações brutas de cada resultado com essa função não-linear dos anos foram analisadas e ajustadas para fatores de risco (idade, prótese valvar, S. aureus, evento embólico e abscesso perivalvar).
ResultadosA maioria dos pacientes era do sexo masculino (64%). Verificou-se aumento da mediana de idade ao longo das décadas (29 a 57 anos; p < 0,001). Também se observou redução na frequência de cardiopatia reumática (14% para 6%; p < 0,001) assim como das infecções estreptocócicas (46% para 33%; p < 0,001). Houve um aumento progressivo de endocardite em prótese valvar, complicações associadas (abscesso perivalvar, insuficiência cardíaca descompensada, embolização) e infecções por estafilococos coagulase-negativos e MRSA ao longo do tempo. A mortalidade geral intra-hospitalar foi de 30%, com tendência ascendente ao longo das últimas três décadas (p = 0,022). No entanto, ao ajustar para fatores relacionados a pior prognóstico (idade, prótese, infecção por S. aureus, eventos embólicos e abscesso perivalvar), verificou-se uma diminuição nas mortes intra-hospitalares (p = 0,019), variando de 34% na primeira década estudada até 26% na última década.
ConclusõesNo período de 44 anos, ocorreram mudanças significativas nas características clínicas e epidemiológicas dos pacientes internados com endocardite. Apesar do aumento da idade média dos pacientes, do envolvimento de próteses valvares, das infecções por estafilococos coagulase negativos/MRSA e das complicações, foi observada uma redução progressiva na taxa de mortalidade ajustada aos fatores de risco ao longo das décadas analisadas.