A mucormicose é uma infecção angioinvasiva causada por fungos filamentosos ubíquos que acomete especialmente pacientes imunocomprometidos. Diabetes mellitus, neoplasias hematológicas, uso prolongado de glicocorticoides, imunossupressão por transplante de órgãos e síndrome da imunodeficiência adquirida são fatores de risco. Tal entidade ganhou especial atenção nos últimos dois anos devido ao aumento de casos em pacientes com COVID-19 tratados com corticoterapia.
ObjetivoRelatar três casos de mucormicose em pacientes internados em hospital terciário com histórico de COVID-19 que receberam corticoterapia endovenosa em altas doses.
MétodoCaso 1: homem, 69 anos, diabético. Quatorze dias após alta hospitalar apresentou dor e mobilidade dentária. Imagem radiológica evidenciou abscessos em seio maxilar direito e erosões ósseas. Submetido a maxilectomia e remoção de arco zigomático e de partes moles acometidas. Biópsia com hifas compatíveis com Mucor spp. Feito dose acumulada de 8350 mg de anfotericina B lipossomal com boa evolução clínica. Caso 2: homem, 70 anos, apresentou múltiplos abscessos em calota craniana e órbita à esquerda após 20 dias do início de corticoterapia. Realizada a exenteração orbitária, ressecção de parede lateral de órbita e de múltiplos ossos da face, crânio e partes moles adjacentes. Além da biópsia compatível, houve crescimento de Mucor spp em cultura. Feito dose acumulada de anfotericina complexo lipídico de 14900 mg, com boa evolução clínica. Caso 3: homem, 44 anos, diabético, apresentou quadro de sinusite 11 dias após início da corticoterapia. Imagem radiológica mostrou extenso acometimento de ossos frontais e zigomáticos e abscessos em seios frontais e etmoidais. Submetido a maxilectomia esquerda ampliada para parede lateral de órbita e osso zigomático, palatectomia esquerda e drenagem de abscessos. Biópsia foi compatível e houve crescimento de Rhizopus spp em cultura. Feito dose acumulada de anfotericina complexo lipídico de 11600 mg, também com boa evolução.
ResultadosA mucormicose é uma doença rara, porém emergente e com altas taxas de mortalidade. Os casos descritos evoluíram bem clinicamente apesar da extrema gravidade e seguem com quadro estável. Pode-se atribuir como fatores determinantes a associação da abordagem cirúrgica extensa e precoce aliada ao início de terapia antifúngica.
ConclusãoAssim, é necessário a suspeição diagnóstica precoce, devido ao grande benefício da terapia medicamentosa e desbridamento cirúrgico em fases iniciais da doença.