Mal de Pott é uma manifestação extrapulmonar de tuberculose (TB) no qual o envolvimento da coluna vertebral se faz presente. Ocasionada pelo Mycobacterium tuberculosis, geralmente é secundário a disseminação hematogênica de um local primário de infecção (mais comumente os pulmões). A dor radicular pode ser o principal sintoma de apresentação, sendo que na doença complicada pode envolver deformidade, instabilidade e déficit neurológico, necessitando de tratamento cirúrgico em alguns casos.

Paciente, IBA, sexo masculino, 50 anos, natural do Piauí, auxiliar de cozinha, sem tratamento prévio para tuberculose, retrovirose desde 2020, em uso de terapia antirretrovial regularmente, admitido no Hospital Regional de Taguatinga (HRT) no dia 17/05/2023, devido a quadro de dor torácica, febre, calafrios, tosse seca, dispneia, dessaturação, sudorese noturna há 08 dias da admissão. Além disso, queixava-se de lombalgia há um ano e seis meses. Fez uso de antiinflamatórios previamente, sem melhora, evoluindo com dificuldade de deambulação, necessitando de uso de cadeira de rodas. Ao exame físico apresentava Babinski bilateralmente. Na admissão, foi realizado tomografia de tórax sem contraste que evidenciou vidro fosco difuso, áreas de cavitação com paredes espessadas e alterações espondilodiscais em T10 e T11 associado a massa paravertebral com calcificações de permeio sugestivo de espondilodiscite tuberculosa. Solicitado contagem de linfócitos TCD4 no valor de 180 células/mm3 e carga viral do vírus HIV 59 cópias/ml, além de genexpert do escarro negativo. Iniciado tratamento para TB pulmonar com esquema RIPE e para pneumocistose com sulfametoxazol+trimetoprima, paciente evoluiu com melhora respiratória, sendo optado estender o tratamento para tuberculose por 10 meses devido a doença de Pott. Iniciado corticoterapia com dexametasona por compressão medular, estabilização da coluna e abordagem cirúrgica futura.

Pacientes imunocomprometidos apresentando sintomas de radiculopatia devem ser investigados criteriosamente com exames laboratoriais e de imagem para avaliar possíveis diagnósticos diferenciais. Mal de Pott pode levar a conseqüências severas, sendo uma delas a ocorrência de fratura, desvio e risco de compressão da medula espinhal com limitação dos movimentos e perda da qualidade de vida.