XXIII Congresso Brasileiro de Infectologia
More infoAs características clínicas da leishmaniose dependem das propriedades do parasita (infecciosidade, patogenicidade, virulência) e fatores do hospedeiro (idade, estado nutricional, imunidade inata e celular). A reativação espontânea da leishmaniose, rara em pacientes imunocompetentes, geralmente ocorre devido à resistência a medicamentos ou inadequação terapêutica. Este relato de caso objetiva demonstrar uma apresentação rara de leishmaniose. O quadro é atípico pelo envolvimento da epiglote e evolução inesperada para um paciente imunocompetente.
Descrição do casoPaciente masculino, 51 anos, lavrador aposentado, tabagista 56 maços-ano, residiu em Marabá-PA por 30 anos, com histórico de leishmaniose cutânea aos 14 anos (lesões ulceradas crônicas em face e membros). Em 2010, apresentou febres vespertinas, emagrecimento, tosse e odinofagia, com ressurgimento de lesões em região nasal e cavidade oral em 2014. Foi tratado em 2018 com anfotericina B lipossomal 2700mg e em 2019, por recidiva, com nova dose 2500mg. Em 2022, interna por quadro de disfagia, odinofagia, disfonia, escarros hemoptóicos, perda ponderal e febre vespertina, com lesão erosiva em septo e desabamento de pirâmide nasal. Escarro e baciloscopia para tuberculose negativos. Tomografia mostra palato mole deslocado e aderido à parede posterior da rinofaringe, com obliteração da coluna aérea; epiglote não caracterizada, formação tecidual de aspecto expansivo em sua topografia e obliteração subtotal da valécula. À laringoscopia: importante deformação anatômica com ausência de epiglote, extensas áreas infiltradas com granulações e placas de fibrina em cordas vocais. Biópsia incisional da lesão laríngea evidenciou inflamação crônica inespecífica com presença de escassas amastigotas. Evoluiu com necessidade de traqueostomia e gastrostomia e realizado novo tratamento com anfotericina B lipossomal 3000 mg. Apresentou boa evolução clínica, recebendo alta para seguimento ambulatorial.
ComentáriosA leishmaniose mucocutânea pode simular condições infecciosas e neoplásicas, tornando o diagnóstico desafiador. A falha no diagnóstico precoce e a inadequação terapêutica podem resultar em pior prognóstico e maior chance de recidiva. Ambos os fatores foram determinantes na evolução do caso relatado e na disfunção orotraqueal perpetuada no paciente. Por fim, o tratamento, quando corretamente instituído, gera excelente resposta clínica e laboratorial, sendo imprescindível à contenção do quadro.