XXIII Congresso Brasileiro de Infectologia
More infoA difteria é uma toxiinfecção aguda que se apresenta na forma respiratória e/ou cutânea, e que pode ser fatal devido à ação da toxina diftérica (TD). O principal agente etiológico é Corynebacterium diphtheriae, mas espécies filogeneticamente relacionadas (Corynebacterium ulcerans, Corynebacterium pseudotuberculosis, Corynebacterium belfantii, Corynebacterium rouxii e Corynebacterium silvaticum), que compõem o complexo C. diphtheriae, apresentam o potencial de produzir a TD e, assim, de causar a doença. Importante salientar que amostras atoxinogênicas deste complexo podem a qualquer momento passar a produzir a TD e que algumas destas espécies são patógenos de animais, incluindo animais de companhia, apresentando potencial de transmissão zoonótica. A difteria já foi responsável por muitas epidemias e seu controle foi possível com a introdução da vacinação com o toxóide diftérico na década de 70. Nos últimos anos, surtos foram reportados na República Dominicana, Haiti e Venezuela. Em decorrência da queda da cobertura vacinal contra a difteria e com o avanço da pandemia da COVID-19, em 2021, a Organização Pan-Americana de Saúde e a Organização Mundial de Saúde (OPAS/OMS) reiteraram aos Estados Membros que a vacinação e a vigilância epidemiológica desta doença não fossem interrompidas, e salientaram que um estoque de antitoxina diftérica fosse mantido para controle de possíveis surtos. Neste contexto, este trabalho visa reportar o isolamento, durante o período pandêmico, de amostras do complexo C. diphtheriae a partir de espécimes clínicos de humanos e animais de companhia coletados em diversos estados brasileiros.
MétodosOs isolados, inicialmente processados por um laboratório particular de abrangência nacional, foram enviados para o Laboratório de Difteria e Corinebactérias de Importância Clínica da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (LDCIC/UERJ), para confirmação da identificação e investigação da toxinogenicidade pela técnica de mPCR.
ResultadosAo todo, 20 amostras foram isoladas de material clínico, sendo 13 de origem humana e 7 de animal. Os isolados foram identificados como C. diphtheriae (n = 10) e C. ulcerans (n = 10) e caracterizados como atoxinogênicos.
ConclusãoEste estudo reforça que as principais espécies de Corynebacterium potencialmente toxinogênicas encontram-se em circulação no Brasil. Assim, enfatizamos que a vigilância epidemiológica da difteria seja contínua e que reservas da antitoxina diftérica sejam mantidas.