Desde a implementação da vacinação contra COVID-19 no Brasil, os povos indígenas foram considerados grupo prioritário; entretanto, essas populações enfrentam diversas iniquidades no acesso à saúde, resultando em maior risco de desfechos negativos no contexto da pandemia em detrimento da priorização na vacinação.
ObjetivoDescrever a evolução vacinal, incidência e mortalidade acumuladas de COVID-19 na população indígena brasileira entre 2020/2021. Contrastar a cobertura vacinal de COVID-19 entre indígenas e idosos no país e as taxas de mortalidade por COVID-19 entre indígenas e a população geral brasileira.
MétodoNeste estudo de série temporal, analisamos a cobertura vacinal, taxa de mortalidade e incidência acumulada de COVID-19 em populações indígenas ≥ 18 anos, de março/2020 à dezembro/2021. Comparamos a cobertura vacinal na população indígena com aquela observada entre idosos e as taxas de mortalidade indígena por COVID-19 com aquela observada na população geral. Os dados foram obtidos de informes epidemiológicos públicos do Ministério da Saúde.
ResultadosObservamos cobertura vacinal geral na população indígena de 90% (dose 1) e 85% (dose 2) em dezembro/2021, porém com grande heterogeneidade no progresso das coberturas vacinais nos 34 Distritos Sanitários Especiais Indígenas. Comparações entre taxas de mortalidade e incidência acumulada da COVID-19 entre 2020/2021 mostram impacto positivo da vacinação. Em junho/2021, a incidência de casos foi mais alta que no ano anterior, e apesar disso a taxa de mortalidade não aumentou. Ao longo dos demais meses de 2021, tanto a incidência quanto a taxa de mortalidade foram menores do que o observado em 2020. Em comparação com idosos, observamos que as populações indígenas alcançaram menor cobertura do que a maioria das categorias etárias, com exceção dos ≥ 90 anos. Também observamos que em março/2021, a taxa de mortalidade acumulada foi similar entre as populações indígenas e a população geral. No entanto, nos meses subsequentes, a taxa de mortalidade foi maior entre populações indígenas, em todas as macrorregiões.
ConclusãoEmbora possivelmente amenizada pela priorização na vacinação, a mortalidade por COVID-19 na população indígena ainda foi maior do que aquela observada na população geral. O impacto negativo da pandemia poderia ter sido mitigado com políticas específicas de atenção à saúde, que considerassem as particularidades socioculturais dos povos indígenas, a fim de preservar sua saúde e existência.