Streptococcus constellatus é um coco gram-positivo anaeróbio facultativo do grupo Anginosus (previamente grupo milleri), que inclui também S. anginosus e intermedius. São frequentemente encontrados na microbiota dos tratos respiratório superior, digestivo e genital de pessoas saudáveis. Pode causar infecções piogênicas, principalmente na cavidade oral, garganta e seios paranasais, no entanto após disseminação hematogênica é capaz de formar abscessos em órgãos e cavidades.

Relatar três casos de infecção por S. constellatus associados à formação de abscesso. Dois dos casos ocorreram em pacientes em tratamento para tuberculose.

Caso 1: Mulher, 37 anos, no quinto mês de tratamento para tuberculose renal, é hospitalizada por dor lombar, disúria e febre há 2 meses. A tomografia computadorizada evidenciou múltiplos abscessos renais. É liberada após tratamento com ceftriaxona por 7 dias e cefuroxima por mais 21 dias. Retorna após 2 meses febril e hipotensa e imagem revela coleção renal de 660 mL. É submetida à drenagem, sendo isolado em cultura S. constellatus. Evoluiu com melhora gradativa após receber ceftriaxona 2 g ao dia por 30 dias. Caso 2: Mulher, 41 anos, no segundo mês de tratamento por tuberculose peritoneal, interna por dor abdominal difusa e febre. Tomografia de abdome indicou volumosa coleção em cavidade, com níveis hidroaéreos. Foi submetida à drenagem de 2050 mL e S. constellatus foi identificado na cultura do líquido peritoneal. Foi tratada com ceftriaxona 2 g ao dia por 7 dias. Caso 3: Homem, 71 anos, ex-tabagista, admitido por tosse, febre e perda ponderal há 4 meses. Realizou dois tratamentos com antibiótico, sem melhora. A tomografia de tórax evidenciou múltiplas consolidações bilaterais, além de derrame pleural loculado. Realizada toracocentese com saída de líquido purulento, cuja análise identificou S. constellatus. Apesar do tratamento com antibióticos e drenagem do empiema, o paciente faleceu devido a complicações relacionadas à internação.

O grupo S. anginosus pode causar infecções graves com formação de abscessos em vários sítios e seus fatores de virulência são pouco conhecidos. Dois dos pacientes desenvolveram infecção por S. constellatus durante tratamento para tuberculose, na mesma topografia da infecção primária, levantando suspeita para uma possível relação entre os microrganismos. Há poucos relatos acerca dessa coinfecção e pouco se sabe sobre a capacidade de interação entre os patógenos.