As infecções por micobactérias não tuberculosas (MNT) são complicações não raras após procedimentos cirúrgicos, podendo causar deiscência cirúrgica, drenagem de secreção seropurulenta, dor local e má qualidade de vida para o indivíduo acometido.

Paciente do sexo feminino, 46 anos, realizou mamoplastia redutora com mastopexia bilateral com inserção de prótese de silicone. No pos-operatório imediato, apresentou dor e rigidez na região da mama direita, fazendo uso de analgésicos e AINES por 10 dias. Após vinte dias da cirurgia, evoluiu com deiscência da sutura, dor leve e drenagem de secreção amarelada, inodora e de consistência elástica no quadrante inferior da mama direita, mas seguiu sem medicação. Em cerca de dois meses de pós-operatório, relatou mal-estar, febre, indisposição e calafrios, além de drenagem de secreção amarela clara espessa, com a presença de rajas de sangue. Foi medicada com ciprofloxacino e clindamicina empiricamente por 14 dias, sem melhora. Desenvolveu-se, então, hiperemia local e uma fístula que perpassou do quadrante inferior da mama direita ao quadrante superior, além de piora do estado geral da paciente. Tratada empiricamente com cefuroxima e encaminhada ao infectologista. Cultura da secreção e do fragmento da mama direita mostrou crescimento de Mycobacterium sp., cuja identificação da espécie por sequenciamento parcial do gene rpoB revelou Mycobacterium wolinskyi, uma micobactéria rara e de crescimento rápido e não pigmentada. Iniciou tratamento com Amicacina, Levofloxacino e Claritromicina (complexo M. fortuitum), essa última substituída por SMX/TMP após resultado de antibiograma. Após quatro meses, substitui-se a Amicacina por Moxifloxacino, devido a queixas de diarreia, dificuldade de acessos venosos e nódulos musculares devido às aplicações IM. No mês seguinte, evoluiu sem mais necessidade de curativos. Complementou mais 12 meses com SMX/TMP + Moxifloxacino, finalizando o tratamento após 18 meses totais, com melhora total do quadro e retorno à cirurgia plástica.

As infecções por MNT após procedimentos cirúrgicos não é algo incomum e devem ser pensadas entre os diagnósticos diferenciais dos quadros de infecção de sítio operatório. O correto manejo após isolamento da espécie e teste de sensibilidade é fundamental para obtenção de melhores desfechos.