A infecção pelo HTLV-2 é endêmica em povos indígenas das Américas, tendo sua origem no continente atribuída ao fluxo migratório dos povos ancestrais dos ameríndios. O presente estudo teve como objetivo investigar a prevalência da infecção pelos HTLV-1/2 em indígenas da etnia Kayapó.
MétodoA prevalência da infecção pelo HTLV-1/2 foi investigada em 661 indígenas (371 mulheres e 290 homens), com a idades variando entre 3 meses a 94 anos (média igual a 29 anos), pertencentes do povo Kayapó, subgrupos Xikrin do Bacajá (n = 216), Kararaô (n = 44), Gorotite (n = 261) e Kokraimoro (n = 140), localizados no estado do Pará, região Norte do Brasil. Após consentimento das lideranças indígenas, amostras de sangue venoso foram coletas em tubos de EDTA e o plasma foi utilizado na triagem realizada por meio de ensaio de imunoabsorção enzimática - ELISA (Murex HTLV-I+II, DiaSorin, Dartford, UK) para pesquisa de anticorpos contra os HTLV-1/2.
ResultadosDo total de indivíduos testados, 111 (16,8%) foram reagentes no ELISA, sendo 37,8% (42/111) homens e 62,2% (69/111) mulheres. A distribuição da prevalência da infecção pelo HTLV foi bastante heterogênea entre as populações: Xikrin (17,6%), Gorotire (21,1%) e Kokraimoro (12,9%). Não foi encontrada infecção no povo Kararaô. A média de idade dos positivos foi de 48,6 anos, variando entre 2 e 86 anos. A infecção foi mais prevalente em indivíduos acima de 61 anos (61,1%), sendo as mulheres mais acometidas.
ConclusãoDescrevemos aqui uma infecção hiperendêmica de HTLV-1/2 entre três subgrupos do povo Kayapó e a ausência de infecção observada apenas no subgrupo Kararaô. A alta prevalência de infecção nesses subgrupos deve ser reflexo de diferentes perfis epidemiológicos observados nestes povos, tais como a transmissão sexual com múltiplos parceiros e o aleitamento materno, especialmente em casos de amamentação cruzada. Ademais, o efeito de fundador, o isolamento sócio-geográfico e o número amostral reduzido podem explicar a ausência de infecção e proteção à emergência do HTLV no subgrupo Kararaô.