Infecções pelo ZIKV ocasionalmente podem desencadear um amplo espectro de malformações congênitas, coletivamente denominados de Síndrome da Zika Congênita. Um número restrito de estudos descreve a imunidade na infecção pelo ZIKV durante a gravidez, tanto em modelos experimentais, como em pacientes. Desta forma, buscamos determinar se a resposta imunológica de memória específica ao ZIKV, 2 a 3 anos após a infecção primária, desenvolvida por mães infectadas durante a gravidez e de seus filhos expostos ao vírus por via transplacentária é efetiva e duradoura.
MétodosA resposta efetora de linfócitos T de vinte e uma mães e dezoito crianças foi avaliada por ELISPOT de IFN- γ e citometria de fluxo após estimulação com megapools de ZIKV.
ResultadosComo principais achados, observamos uma alta frequência de linfócitos T CD4+ de perfil Th2 efetora/memória e de linfócitos T CD8+ de perfil Th1 naive, seguida de linfócitos T CD8+ de perfil Tc2 efetora/memória nas mães e crianças, indicando que essas células estariam, de alguma forma, auxiliando a resposta imune humoral de mães e crianças com histórico de infecção pelo ZIKV. Observamos ainda, que a capacidade de degranulação e produção de IFN-γ pelos linfócitos T CD4+ foram detectadas nos três grupos de pacientes mesmo após 2-3 anos de infecção, indicando que os linfócitos T CD4+ mantém um perfil de memória de longa duração. Por outro lado, as habilidades de degranulação e produção de IFN-γ pelos linfócitos T CD8+ foram ausentes ou baixos nos três grupos de pacientes após o mesmo período, indicando que os linfócitos T CD8+ mantém um perfil de memória de curta duração quando comparado aos T CD4+. Por fim, demonstramos que os linfócitos T CD4+ TEMRA são os principais produtores de IFN-γ.
ConclusãoÉ importante relembrar que embora não estejamos estudando a infecção aguda na gestação, nossos dados refletem um imprint do que provavelmente ocorreu na infecção aguda. Desta forma, nosso estudo descreve pontos importantes de relevância imunológica, clínica e epidemiológica, particularmente em relação aos linfócitos T CD8+ de memória específicos ao ZIKV que são gerados, mas mantidos por um curto período. Também evidenciarmos que as respostas de linfócitos T específicas ao ZIKV nas mães parecem não ter sido diferenciadas na fase aguda e que, portanto, não estariam relacionadas ao desfecho clínico dos bebês.