
A Mycobacterium smegmatis é um bacilo álcool-ácido resistente que em muitos casos, por sua baixa virulência, é considerado não patogênico, porém uma vez que apresenta alta taxa de duplicação e por conseguir evitar sua degradação pelas células apresentadoras de antígenos, tal germe é capaz de causar infecções oportunistas, como por exemplo em sítios cirúrgicos. Nesse relato, apresentaremos um caso de um paciente, 37 anos, que foi submetido a procedimento cirúrgico de hidrolipoaspiração de dorso com enxertia em glúteo. Após 45 dias de pós-operatório, evoluiu com febre, dor e edema em glúteo direito. Iniciou antibioticoterapia com amoxicilina/clavulanato e clindamicina sem melhora do quadro. Foi realizada coleta para realização de cultura da ferida operatória com resultado parcial apresentando bacilo álcool ácido resistente. O esquema terapêutico foi modificado para claritromicina e levofloxacino mantendo piora evolutiva com lesões ulceradas e fístulas na região associadas à importante linfadenopatia em região inguinal com saída de secreção. O paciente foi internado para tratamento venoso com amicacina, levofloxacina e claritromicina. Na cultura houve crescimento de Mycobacterium smegmatis resistente à claritromicina. O esquema antimicrobiano foi trocado para sulfametazaxol/trimetropim, levofloxacina e amicacina. Devido à apresentação de efeitos adversos, a continuidade do tratamento se deu com doxiciclina e amicacina. O paciente apresentou boa evolução clínica e, após 120 dias, a terapia foi suspensa com resolução do quadro infeccioso com a ferida cicatrizada e melhora dos parâmetros laboratoriais. O caso relatado traz luz à discussão da presença de agentes etiológicos incomuns em infecções relacionadas à assistência à saúde.