No Brasil, a pandemia de COVID-19 apresentou três grandes ondas. A primeira onda ocorreu de março a maio de 2020 e foi causada, predominantemente, pelas variantes B1.1.28, B1.1.33 e B1.1. A segunda onda se iniciou em dezembro de 2020 e teve seu pico em março e abril de 2021. As principais variantes envolvidas na segunda onda foram as variantes P1 (Gamma) e P2. A terceira e maior das ondas ocorreu em janeiro e fevereiro de 2022, sendo majoritariamente causada pela variante BA.1 (Ômicron). A prevalência da COVID-19 entre adultos é substancialmente maior do que na população pediátrica. Além disso, quando adoecem, crianças e adolescentes usualmente apresentam quadro mais leves e melhor prognóstico. Em nosso serviço, observamos diferença significativa na taxa de positividade de COVID-19 de acordo com a variante predominante na comunidade, com considerável aumento do número de casos no mês de janeiro 2022.
ObjetivoAvaliar o número de casos de COVID-19 em pacientes pediátricos atendidos em hospital público terciário no município de São Paulo e correlacionar esta incidência com as variantes predominantes na comunidade.
MétodoEstudo retrospectivo, que avaliou o número de casos de COVID-19 em pacientes pediátricos do Instituto da Criança e do Adolescente do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (ICr-HCFMUSP), no período de 01/04/2021 a 25/04/2022. A incidência encontrada foi comparada às variantes do SARS-CoV-2 em circulação na comunidade.
ResultadosObservamos aumento do número de casos investigados a partir de maio de 2021, chegando a 259 casos/mês. Apesar disso, o aumento do número de casos confirmados de COVID-19 só ocorreu em janeiro de 2022 (n = 86), juntamente com o pico de circulação da variante Ômicron. O mesmo ocorreu em pacientes assintomáticos: aumento das solicitações de RT-PCR SARS-CoV-2 a partir de maio de 2021 (n = 247), entretanto o aumento de casos de COVID-19 assintomático só se deu em janeiro de 2022 (n = 33). A taxa de positividade aumentou apenas em janeiro de 2022, chegando a 31% em pacientes sintomáticos e 21% entre assintomáticos.
ConclusãoA análise da incidência dos casos de COVID-19 na pediatria mostrou maior taxa de positividade de casos sintomáticos e assintomáticos durante a circulação da variante Ômicron na comunidade, sugerindo maior susceptibilidade dessa população a esta variante, quando comparada às variantes que circularam em outros períodos da pandemia.