IV Congresso Goiano de Infectologia
More infoA histoplasmose, especialmente em sua forma disseminada e com envolvimento do sistema nervoso central (SNC), emerge como altamente endêmica no território brasileiro, intensificada por lacunas significativas no programa brasileiro de HIV. Infecções oportunistas permanecem frequentes devido a problemas de retenção no cuidado, que estão associados a desigualdades sociais, doenças mentais, abuso de substâncias e baixa escolaridade. Muitos pacientes são diagnosticados tardiamente com HIV, já apresentando uma infecção oportunista, apesar das políticas nacionais de tratamento antirretroviral gratuito.
Relato da Série de CasosEste estudo detalha 13 casos de histoplasmose do SNC identificados em uma unidade de referência no estado de Goiás, no período de 2007 a 2022 confirmados com cultura de LCR positiva. Entre os pacientes, predominou o sexo masculino, com idade média de 44 anos. Apenas um estava em terapia antirretroviral (TARV) regular na admissão. A carga viral foi detectada em valores elevados em 9 dos 10 pacientes com uma média de 419.168 cópias/ml. Os 11 pacientes que tinham contagem de CD4 disponível apresentavam valores abaixo de 150 células/mm³, com média de 47,6 células/mm³. A maioria não recebeu o tratamento conforme as diretrizes da Infectious Disease Society of America (IDSA), que recomendam o uso de anfotericina lipossomal seguida por itraconazol, devido à dificuldade de acesso à formulação lipossomal.
ConclusõesVivemos em uma região com uma frequência de histoplasmose comprovada/provável superior a 45% em pessoas vivendo com HIV (PLHIV). A série de casos revela uma associação significativa entre AIDS avançada e neurohistoplasmose, destacando a alta letalidade da doença, com uma taxa de mortalidade de 62%. As deficiências no diagnóstico e tratamento são exacerbadas pela falta de recursos laboratoriais e pela dificuldade de acesso a medicamentos antifúngicos apropriados. A série sublinha a urgência de melhorias no diagnóstico, tratamento e no conhecimento sobre esta doença negligenciada, além da necessidade de inclusão de anfotericina lipossomal nos programas nacionais de tratamento de micoses endêmicas para pacientes com HIV. A coleta rotineira de LCR em casos de histoplasmose disseminada torna-se essencial, assim como a luta pelo acesso a novas ferramentas diagnósticas para combater essa forma letal da doença.