XXIII Congresso Brasileiro de Infectologia
More infoA pandemia de COVID-19 foi responsável por mais de 600 mil óbitos no Brasil e evidenciou dificuldades públicas e privadas no enfrentamento de emergências de saúde pública. A situação não foi agravada apenas por problemas diretamente relacionados ao trabalho de combate à doença, mas por questões persistentes, como comorbidades de saúde, envelhecimento populacional, desigualdades socioeconômicas, demográficas e de acesso à saúde. Este estudo teve como objetivo analisar fatores sociais, demográficos e clínicos relacionados ao óbito por COVID-19 em pacientes notificados no sistema de vigilância em saúde do estado do Espírito Santo, Brasil, de janeiro de 2020 a novembro de 2022. Realizou-se um estudo transversal, com base em dados secundários, em acordo com o checklist RECORD. Foram incluídos casos confirmados por exame laboratorial com desfecho conhecido de cura ou óbito por COVID-19, excluídos todos os demais pacientes. Variáveis sociais, demográficas e de saúde foram estudadas. Na análise estatística, utilizou-se odds ratio ajustado por regressão logística binária, com R statistical program. A amostra consistiu em 370.077 pacientes. Após o ajuste pelas variáveis de saúde, os seguintes fatores apresentaram associação com maior chance de óbito por COVID-19: sexo masculino em relação ao feminino (OR: 1,94, IC99%: 1,80-2,09); níveis educacionais inferiores, como ensino médio completo (OR: 1,26, IC99%: 1,09-1,47), ensino fundamental completo (OR: 2,43, IC99%: 2,09-2,83), ensino fundamental incompleto (OR: 3,32, IC99%: 2,90-3,82) e analfabetismo (OR: 7,02, IC99%: 5,58-8,40), em comparação aos pacientes com ensino superior completo; tabagismo (OR: 2,16, IC99%: 1,81-2,55); presença de diabetes (OR: 2,92, IC99%: 2,66-3,20); obesidade (OR: 3,56, IC99%: 3,17-3,98); comorbidades cardíacas crônicas (OR: 4,24, IC99%: 3,90-4,61); doenças renais crônicas em estágio avançado de graus 3, 4 ou 5 (OR: 5,65, IC99%: 4,61-6,90); e doenças pulmonares crônicas descompensadas (OR: 2,70, IC99%: 2,34-3,11). Com a ressalva de que este é um estudo transversal e observacional, este estudo demonstra a importância das variáveis sociais e demográficas na pandemia de Covid-19, demonstrando a necessidade de ações para correção desses problemas. Além disso, este é o primeiro estudo que analisa este cenário no contexto da população do estado do Espírito Santo, Brasil, trazendo resultados locais que podem orientar políticas públicas e privadas.