A profilaxia pré-exposição oral diária ao HIV (PrEP) é altamente efetiva para prevenção do HIV quando usada adequadamente. Entretanto, há preocupação sobre a possibilidade de redução ou a interrupção do uso do preservativo entre aqueles que iniciam a PrEP, especialmente os adolescentes homens que fazem sexo com outros homens (aHSH) e travestis e mulheres trans (aTrMT). Objetivamos analisar se a expectativa de redução do uso do preservativo entre aHSH/aTrMT após o início da PrEP é maior entre aqueles que já tinham esse comportamento antes do seu início.

PrEP1519 é uma coorte demonstrativa do uso da PrEP entre aHSH/aTrMT, com idade de 15 a 19 anos, em três capitais brasileiras. Foram incluídos 1.219 adolescentes que iniciaram a PrEP entre abril/2019-março/2023. Os desfechos analisados foram as expectativas de redução do uso do preservativo i) no sexo anal insertivo (SAI) e ii) sexo anal receptivo (SAR) após o início da PrEP. Odds ratio ajustada e intervalos de confiança (IC95%) foram estimados por regressão logística para analisar associação entre o uso prévio inconsistente do preservativo no SAI e SAR nos últimos 3 meses do início da PrEP e as expectativas de redução do uso no SAI e SAR após o início da PrEP.

A maioria tinha idade entre 18 e 19 anos (74,2%), era preto/pardo (71,8%), aHSH (91,0%), cursava ensino médio (71,7%), morava com pais/familiares (82,0%), 47,7% relataram o uso inconsistente de preservativo no sexo anal receptivo nos últimos 3 meses e 76,6% tinham baixa percepção de risco para o HIV. A expectativa de interromper o uso do preservativo após o início da PrEP foi de 11,0% e de redução do seu uso foi de 52,1% no sexo oral, 31,8% no SAI e 32,9% no SAR. A expectativa de reduzir o uso de preservativo foi 2,92 vezes maior (IC95%:2,16-3,96) entre os que já relataram o uso inconsistente do preservativo no SAR e 2,98 vezes maior (IC95%:2,03-4,43) entre os que relataram o uso inconsistente no SAI, ajustado por outras co-variáveis.

A expectativa de diminuir o uso do preservativo após iniciar a PrEP foi maior entre adolescentes que já possuíam práticas de uso inconsistente. Os dados apontam para uma continuidade do risco caso a PrEP não fosse instituída oportunamente. Nesse sentido, a criação de demanda para PrEP deve ser priorizada para diminuir a incidência de HIV entre aqueles com relato de uso inconsistente de preservativo.