Anticorpos neutralizantes têm sido reconhecidos como a principal referência de imunidade contra o SARS-CoV-2, e seus níveis podem ser influenciados pela exposição à infecção natural, pela vacinação, ou ainda pela administração de imunoglobulinas exógenas no caso do uso de plasma de doador convalescente ou anticorpos monoclonais contra o vírus. Desde os primeiros casos da COVID-19, o impacto da imunidade populacional sobre a persistência da pandemia tem sido debatido, e diferentes níveis de “imunidade de rebanho” foram aventados para o controle da pandemia.
ObjetivoDescrever a evolução temporal dos resultados de exames de neutralização para SARS-CoV-2 realizados no laboratório do Hospital Israelita Albert Einstein (HIAE). Correlacionar a evolução temporal dos exames de neutralização com a ocorrência de casos e progressão da vacinação para SARS-CoV-2.
MétodoExtraímos na base de dados do laboratório do HIAE laudos laboratoriais de exames de neutralização do SARS-CoV-2 (Ensaio imunoenzimático competitivo cPass™ SARS-CoV-2 Neutralization Antibody Detection Kit - GenScript) realizados entre junho de 2021 e maio de 2022. Descrevemos o percentual de exames positivos (>30%) e o percentual médio de neutralização obtidos nos laudos de exames em cada mês, correlacionando os valores observados com a ocorrência de casos e a progressão da vacinação no período utilizando métodos gráficos.
Resultados16.727 exames foram incluídos na análise. Observamos aumento progressivo da porcentagem de exames positivos, de 68% em junho de 2021 para 94% em maio de 2022, e aumento da porcentagem média de neutralização, de 50,7% em junho de 2021 para 85,8% em maio de 2022. O aumento da porcentagem de neutralização vem apresentando correlação com a progressão da vacinação no Estado de São Paulo; entretanto, observamos elevada ocorrência de casos no primeiro trimestre de 2022, apesar de porcentagens médias de neutralização acima de 80% no mesmo período.
ConclusãoNosso estudo apresenta resultados de testes de neutralização de uma fração limitada da população. Entretanto, é plausível assumir que estes valores refletem a evolução temporal da resposta imune ao SARS-CoV-2 em diferentes populações sob condições semelhantes de exposição ao vírus e vacinação. Os achados sugerem que estimativas iniciais de término da pandemia a partir de níveis de imunidade de rebanho próximos de 70% foram inacuradas.