XXIII Congresso Brasileiro de Infectologia
More infoA história natural da infecção pelo SARS-Cov-2 apresenta características específicas que refletiram em alto índice de hospitalização e óbitos. Um dos objetivos do Estudo Covid-19 HNH-BR (Hospitalized Natural History - Brazil) foi estabelecer através de uma coorte observacional a caracterização clínica e laboratorial de pacientes internados um hospital de referência universitário por doença grave/crítica no primeiro ano pandêmico, em que as variantes alfa, beta e gama estavam circulantes, a fim de determinar as variáveis de maior impacto no período pré-vacinação em massa do município de Botucatu (SP).
MétodoEntre maio/2020 a maio/2021, 432 casos de hospitalizações em adultos com covid-19 grave/crítica foram incluídos. Composição dos grupos (desfechos “alta hospitalar”): G1: com sequelas (n = 145, 33,6%); G2: sem sequelas (n = 84, 19,4%); G3: Óbito Enfermaria (n = 22, 5,1%) e G4: Óbito UTI (n = 181, 41,9%). Estatística: teste de ANOVA seguido de Tukey, distribuição Gamma e de Poisson seguidos de Wald, tabelas de contingência e regressão logística multinomial.
Resultados203 (47%) da casuística evoluiu para óbito. Média de idade: 60,7 (±15,4) anos, Homens: 234 (54,2%). Houve homogeneidade em relação aos sintomas e comorbidades, exceto para alto risco cardiovascular (p = 0,017) e neoplasia ativa (p = 0,004), mais prevalentes em G3 e G4. Óbito também esteve relacionado com níveis menores de hemoglobina (p =,0002), menor saturação de O2 no momento da admissão (p =,0007), pior relação de troca respiratória (p <,0001), maior comprometimento pulmonar na TC (p <,0001), leucocitose (p <,0001), creatinina aumentada (p <,0001) e DHL elevada (p = 0,009). Preditores de risco para óbito: idade avançada (OR: 4,2%; p <,0001), maior tempo de UTI (OR: 3%; p = 0,013), PCR elevada (OR: 2,353; p = 0,001) e uso de suporte ventilatório não invasivo e invasivo (OR: 2,497 e OR: 54,821; p =,0001).
ConclusãoEm pacientes com covid-19 grave/crítica de uma grande coorte nacional no período pré-vacinação, o grau de comprometimento pulmonar, pior relação de troca respiratória, maior tempo de hospitalização, necessidade de suporte de oxigênio e marcadores inflamatórios elevados estiveram associados com maior taxa de óbito, bem como idade mais avançada, alto risco cardiovascular e neoplasias ativas. Esses achados são condizentes com resultados de outras coortes brasileiras, e são fundamentais para compreender as estratégias de priorização de vacinação e de tratamento antiviral estabelecidos no Brasil.